São Paulo (AUN - USP) - Ética e cidadania podem ser ensinadas? Essa foi a grande pergunta que norteou a palestra de José Sérgio de Carvalho, professor de Filosofia da Educação da USP. O evento fez parte do ciclo de cursos da Jornada Científica promovida pelo Centro Universitário Maria Antônia, e buscou a partir de alguns discursos da filosofia grega, abordar o ideal de uma ação educativa voltada para a formação do caráter e para o exercício da cidadania.
José Sérgio buscou na Grécia antiga, mais especificamente no período de democratização da gestão da Polis (a cidade grega), o modelo de participação conjunta que daria origem não só à Política como também a própria noção de cidadania. Transferido para a atualidade, o conceito grego de cidadania apresentou uma deficiência: ele não lidava com a totalidade da sociedade, mas apenas com o grupo de homens gregos livres que eram considerados cidadãos. Reside aí o grande desafio da escola pública de construir através da diversidade a nova noção de cidadania como um dos pilares para a construção da democracia.
José Sérgio, evitando fórmulas prontas para o professor, pontuou que o ensino da cidadania e a formação de um comportamento ético dentro das escolas deve acontecer através de uma prática ética por parte dos professores. “A ética nesse sentido provém de um hábito, de uma prática social baseada no respeito e na justiça”. O docente sugeriu, por exemplo, que o ensino de história deveria enfocar um pouco sobre história da África, considerando que cerca de 40% da população escolar brasileira é formada por negros ou descendentes de negros. Essa prática colaboraria para a formação da consciência do aluno e da afirmação de sua auto-estima. O ensino de ciências também deve buscar a discussão crítica das teorias e não apenas um ensino dogmático baseado em fórmulas impostas aos alunos.
Finalmente, José Sérgio enfatizou que a escola apesar de não ser a única instituição responsável pela construção de valores, é o espaço no qual serão estabelecidos os primeiros debates críticos que permitirão ao aluno posicionar-se perante o outro, o diferente (não mais entre os iguais da família ou da religião). Nesse momento que o espaço escolar deve promover a diversidade de idéias e opiniões assim como a tolerância e a compreensão à novas maneiras de pensar. A construção da cidadania começa aqui, através do combate à discriminação e da construção de um comportamento ético perante a diferença.
No próximo seminário da Jornada Científica, a professora Maria Lúcia Zoega de Souza falará sobre a literatura juvenil no Brasil. O evento será realizado na Estação Ciência, no dia 26 a partir das 9:30. As inscrições devem ser feitas com antecedência, pessoalmente no Centro Universitário Maria Antônia.