São Paulo (AUN - USP) - A ressonância magnética funcional (RMf) é uma tecnologia bastante recente que consiste em obter uma imagem interna de algum organismo em funcionamento. Esta técnica, que ainda não está disponível comercialmente no Brasil, tem proporcionado aos pesquisadores novas possibilidades de estudos.
Em uma das primeiras pesquisas que exploram este avanço no Estado de São Paulo, a pesquisadora Mirna Sehara, do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Neuroimagem Funcional, da Faculdade de Medicina de USP, procurou observar o funcionamento do cérebro ao trabalhar com diferentes processos de entendimento de escrita. O processo lexical que consiste na compreensão de uma palavra por seu todo (uma palavra que conhecemos e, portanto não a identificamos fonema por fonema, mas por seu conjunto. Ex: gato) e o processo perilexical que consiste na leitura fonema por fonema (uma palavra desconhecida ou inexistente é lida desta maneira uma vez que nosso cérebro não a reconhece. Ex: pataca).
Para este estudo foram escolhidos dois grupos de indivíduos: pessoas que somente falavam português e bilíngües conhecendo o português e a linguagem logográfica (um sinal correspondendo a uma palavra) e silábica japonesa.
A análise do trabalho cerebral ligado à leitura se efetuou segundo esta divisão de processos:
Português: lexical = palavras conhecidas
perilexical = palavras inexistentes e
Japonês: lexical = logogramas
perilexical = linguagem silábica
Observando com a RMf a respostas cerebrais dos diferentes grupos ao ler nestes dois diferentes sistemas a pesquisadora chegou a confirmação de algumas suposições levantadas anteriormente. Pôde-se perceber que no cérebro dos unilíngües as áreas correspondentes aos dois processos eram bem diferenciadas enquanto nos bilíngües elas se entrecruzavam constantemente, logo o bilingüismo afeta a organização cerebral do processo de leitura. A compreensão deste tipo de processo está diretamente ligada ao entendimento de casos de perda de linguagem após traumas cerebrais e derrames uma vez que já havia se notado que nem sempre os dois modos de leitura são prejudicados da mesma maneira.
As aplicações clínicas diretas deste tipo de pesquisa ainda estão para ser descobertas. Enquanto isso a RMf é utilizada na observação para o tratamento de epilepsia e tumores cerebrais. Porém, esta técnica serve para reunir dados indispensáveis para compreender o funcionamento do cérebro que, mesmo sendo o centro de controle de nosso corpo, continua algo misterioso.