São Paulo (AUN - USP) - “Apesar da sexualidade do brasileiro não diferir em termos estatísticos dos números encontrados na população em geral do mundo todo, a tendência do brasileiro é supervalorizar a sua performance sexual”, afirma a médica Carmita Helena Najjar Abdo, professora do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Quando questionados sobre seu próprio desempenho sexual, as mulheres atribuíram-se uma nota média de 7,4 enquanto os homens apontaram uma média de 7,8 (a média mundial, para comparação, está entre 5,0 e 6,0). Esses conceitos elevados entram em conflito com os altíssimos números de disfunções sexuais apontados no questionário: 46% dos homens admitiriam ter, em algum grau, uma disfunção erétil – ou seja, encontram dificuldade em obter e manter a ereção – e 56% disseram ter ejaculação precoce. As mulheres também não se encontram numa situação agradável, porque 35% delas afirmam não ter desejo, 30% não atingem o orgasmo e 21% enfrentam dores durante a relação sexual. “Diante desses números, dizer que a nota é 7,4 ou 7,8 não corresponde ao que eles relataram nas outras questões”, complementa a médica.
Segundo Carmita, muitos indivíduos consideram que suas dificuldade sexuais seriam justificadas por problemas dos seus parceiros, como falta de interesse, de experiência ou de compreensão da parte dos companheiros. “Eles em certa medida responsabilizam o outro por parte das suas falhas”, acrescenta a médica. Apesar disso, cerca de 60% das pessoas que enfrentam problemas sexuais ainda se responsabilizam pelos seus fracassos.
Os principais fatores que agravam os problemas sexuais dos brasileiros são a idade, hipertensão, depressão, sedentarismo, alcoolismo, tabagismo e diabetes, além do desemprego. As mulheres sofrem com todos esses fatores, mas a idade age de modo distinto: enquanto os problemas dos homens aparecem com o passar do tempo, as mulheres mais novas já enfrentam dificuldades em obter o orgasmo e as mais velhas têm pouco desejo sexual. “Além disso, as mulheres têm o fator emocional muito mais pronunciado no seu desempenho do que os homens. Apesar dos fatores biológicos, físicos e orgânicos serem muito importantes, a gente sabe que os fatores emocionais são bem mais importantes até para a mulher se dispor a iniciar uma atividade sexual”, conclui.
Esses dados foram divulgados no relatório dos resultados do Estudo do Comportamento Sexual do Brasileiro, realizado pelo Projeto Sexualidade (PROSEX) e coordenado por Carmita. “Foi uma pesquisa feita com cerca de três mil pessoas no Brasil todo”, explica a médica, “que avaliou detalhadamente como o brasileiro se comporta, quais são suas principais dificuldades na área sexual, quais são os problemas que ele enfrenta, que recursos ele utiliza para viver sua sexualidade e, enfim, que doenças se associam às dificuldade sexuais”.
Fundado no início da década de 90, o PROSEX atende 350 pacientes por mês e oferece medicamentos, tratamento psicoterápico, cursos sobre sexualidade e outras atividades psicopedagógicas para pessoas que tenham transtornos sexuais. Um grupo de 40 profissionais, dentre eles psiquiatras, psicólogos, urologistas, ginecologistas, terapeutas ocupacionais e clínicos, presta assistência à população no campo da sexualidade. Muitos transexuais são preparados pelo projeto para cirurgias de mudança de sexo, após um período de psicoterapia.
Há ainda um serviço gratuito de atendimento por telefone para solucionar dúvidas da população em geral, o Disk PROSEX (0800-16-20-44). O projeto também organiza o site www.portaldasexualidade.com.br.