ISSN 2359-5191

22/09/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 89 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Poços abertos para irrigação causam tremores de terra em Bebedouro

São Paulo (AUN - USP) -Estudos realizados pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP concluíram que poços tubulares profundos abertos na Fazenda Aparecida, em Bebedouro, interior de São Paulo, são responsáveis pelos tremores de terra sentidos no distrito de Andes desde 2004. As pesquisas, coordenadas pelo professor Marcelo Assumpção, foram feitas a pedido do SAAEB (Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Bebedouro), a partir de março de 2005.

Dois anos antes, dez poços foram abertos na fazenda e, conforme constatou a pesquisa de Assumpção, todos eram considerados "profundos" – ou seja, perfuravam a camada de basalto para retirar água para irrigação – e três deles tinham vazões muito altas. Os tremores começaram a ser sentidos em Andes no primeiro semestre de 2004 e continuam até hoje, em todos os primeiros semestres de cada ano. A partir de setembro, na estação seca, a sismicidade desaparece quase que por completo, coincidindo com a época de bombeamento contínuo dos poços para irrigação.

Ao todo, já foram registrados cerca de três mil tremores desde 2005. Os abalos, que já chegaram a 2,9 graus na escala Richter (cujo extremo é 9), têm causado incômodo à população de Andes. Em março de 2005, objetos caíram das estantes, quadros foram sacudidos nas paredes e pessoas chegaram a cair. De dois anos para cá, verificaram-se rachaduras nas paredes das construções. Contudo, os efeitos limitam-se apenas a Andes; no restante da cidade de Bebedouro os abalos sequer são sentidos.

Os resultados
Inicialmente, Assumpção verificou que os epicentros dos tremores eram muito próximos aos dois poços de maior vazão na Fazenda Aparecida. Com o tempo, os epicentros migraram para distâncias maiores, o que caracteriza uma "sismicidade induzida por difusão de pressão de água em meios porosos ou fraturados", segundo consta do relatório elaborado pela equipe do IAG.

Além disso, já existe um histórico de atividade sísmica induzida na Bacia do Paraná, onde está Bebedouro, em decorrência de perfurações de outros poços e para enchimento de reservatórios hidrelétricos, nas décadas de 50 e 70. As chances de que os tremores de agora sejam naturais são ínfimas: a probabilidade de um tremor natural ocorrer perto de um poço perfurado um ano antes, segundo o professor do IAG, é de 15% - e a de ocorrer cinco anos seguidos é de apenas 0,01%.

Os estudos da USP concluíram que os tremores são causados por uma conjuntura de fatores, diretamente atrelada aos poços abertos na Fazenda Aparecida. As pesquisas constataram que a região já apresenta uma tensão tectônica pré-existente próxima do estado crítico. Assumpção explica que esse fator natural é agravado pelo aumento da pressão nas fraturas geológicas do basalto, em decorrência da entrada de água do aqüífero superficial através dos poços. Em forma de cachoeira, essa água vem alimentar os aqüíferos subterrâneos mais profundos, o que aumenta a pressão e desencadeia o escorregamento entre blocos de rocha, ou seja, os abalos de terra.

A estagnação da sismicidade verificada na época de seca, durante quatro ou cinco meses, pode ser explicada pelo bombeamento constante de água nos poços para irrigação de plantações de laranjas. Assim, a pressão da água diminui, o que "trava" as fraturas do basalto e interrompe a ocorrência de tremores.

De acordo com o professor Assumpção, a solução seria vedar a parte rasa dos poços, para impedir que a água penetre no basalto. Entretanto, esta medida tem custo alto e as autoridades de Bebedouro não assumem as responsabilidades.

Enquanto a Prefeitura afirma, com o respaldo da lei, que a cabe à União resolver problemas relacionados à água subterrânea, o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) alega que nunca antes precisou tratar de tremores provocados por poços e que não tem o papel de fiscalização por iniciativa própria, a não ser que receba alguma denúncia oficial. Já o proprietário da Fazenda Aparecida nega qualquer relação de seus poços com os tremores, a despeito das conclusões do IAG.

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