São Paulo (AUN - USP) -O retrato dos portadores de deficiência estabelecido pelas produções cinematográficas e políticas públicas, em geral, apresentam aos olhos da sociedade seres vivos privados de sexualidade. Seja por negligência das leis ou pela dificuldade em se escapar dos estereótipos, a representação dos deficientes deturpa a realidade. Como quaisquer outros seres humanos, eles também possuem desejos e impulsos sexuais. O psiquiatra Francisco Baptista Assumpção Jr. e o psicólogo Thiago de Almeida, ambos do Instituto de Psicologia da USP, desmistificam a relação entre sexo e deficiência no livro “Sexualidade, Cinema e Deficiência”, recentemente lançado pela LMP Editora.
Segundo Francisco Baptista, permeia-se a idéia na sociedade convencional de que o deficiente deve ser tutelado em todas as suas ações, destituindo-o do poder de decisão. Logo, por medo dos problemas operacionais como envolvimento amoroso e transmissão de DST, instituições, escolas e famílias, em sua grande maioria, negam o direito à sexualidade. O indeferimento ao uso do corpo se trata então de uma construção social, influenciada por políticas públicas que se focam somente em questões trabalhistas e conceitos difundidos pela mídia.
Atualmente, para o psiquiatra, vive-se um momento muito interessante na questão do tratamento de deficientes físicos, sensoriais ou mentais. Quase todos os discursos, inclusive os políticos e cinematográficos, desenvolvem a falsa idéia de inclusão social. Fala-se sobre a possibilidade de integração e a existência de leis que garantem uma estrutura especial. Contudo, isso não passa da teoria. Na realidade, há poucos lugares prontos para receber deficientes ou estimulá-los a interagir com outras pessoas.
O cinema contribui a para o agravamento da situação na medida em que dificilmente escapa das histórias politicamente corretas. Os filmes idealizam a condição dos portadores de deficiências, com enredos que relacionam o sucesso exclusivamente a uma questão de vontade e persistência. Além disso, o tema da sexualidade dos deficientes é pouco abordado em produções cinematográficas.
A única solução para melhorar a condição dos deficientes, do ponto de vista de Francisco Baptista, seria “mudar a concepção de homem”. Deixar de lado o direito ao trabalho e focar-se no direito a vida. Para tal, é preciso enfatizar o real, estimular a reflexão sobre o contexto da sociedade e criar novos conceitos. “Precisamos sair do mundo da fantasia e dos discursos politicamente corretos. O foco deve residir no que as pessoas são e não no quanto elas produzem”, finalizou.
“Sexualidade, Cinema e Deficiência” tem como objetivo enquadrar-se nessa resposta. O livro busca desmistificar a relação entre sexo e deficiência tendo como ponto de partida a exposição do problema nas produções cinematográficas. Em outras palavras, estimula a reflexão a partir de um objeto próximo ao grande público. E, de modo a deixar a discussão ainda mais completa, o livro reúne textos de 14 especialistas de diferentes formações, desde seguidores de Jung até acadêmicos Freudianos.