ISSN 2359-5191

24/09/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 91 - Meio Ambiente - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Reaproveitamento do lixo é caminho para mudança social
População socialmente excluída tem papel fundamental para transformação

São Paulo (AUN - USP) -Em uma sociedade onde poucos consomem muito, o excesso de materiais é evidente, sobretudo, nas grandes cidades. No entanto, o que é chamado de lixo torna-se instrumento de mudança social quando reaproveitado pela maioria. É essa a proposta da pesquisadora e professora da Universidade de São Paulo (USP) Maria Cecília Loschiavo dos Santos, que apresentou resultados de seus trabalhos durante o congresso “Metáforas da Rua”, realizado recentemente por uma parceria entre a Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e o Museu de Arte Contemporânea (MAC).

Segundo a pesquisadora, o primeiro passo para a reverter os problemas causados pelo excesso de detritos é a criação de “uma nova sensibilidade estética”, em que algo seja considerado belo em função de como beneficia o meio ambiente e a comunidade, e não de acordo com padrões estéticos promovidos por uma sociedade que incentiva o consumo exagerado. Dessa forma, o reaproveitamento de materiais descartados deve ser valorizado e incentivado.

O Brasil é um espaço propício para o desenvolvimento dessa proposta, já que existe ampla tradição do re-uso de materiais através de alternativas criativas, oriundas, principalmente, das camadas mais pobres da população. Esse tipo de trabalho, chamado por Maria Cecília de “design espontâneo”, é fundamental para a criação de uma “nova economia solidária do descarte”, em que o desperdício de poucos, nas mãos da maioria, converta-se em benefício para a sociedade como um todo.

Nesse sentido, personagens urbanos marginalizados, como os moradores de rua catadores de materiais descartados, prestam um verdadeiro serviço à comunidade. No entanto, seu trabalho ainda não é contemplado por políticas públicas na maior parte das cidades do país. “O que está vigente no momento são políticas de expulsão e ‘fora dos meus olhos’; ninguém quer ver o morador de rua, ninguém quer sua presença”, destaca a pesquisadora, denunciando a negligência com que população de rua vem sendo tratada, sobretudo, na cidade de São Paulo.

O descarte excessivo de materiais não é um problema apenas ambiental, pois está ligado a uma mentalidade que leva também ao “descarte de seres humanos”. Maria Cecília aponta que o brasileiro ainda não tem uma cultura de manejo do lixo orgânico doméstico, o que potencializa o desperdício e precisa ser modificado - através da implementação da coleta seletiva em âmbito nacional, por exemplo. No entanto, propõe que “os catadores de materiais descartáveis sejam integrados a esse processo”, para que a transformação seja tanto ambiental, como social.

Para tanto, serão necessários grandes investimentos e um planejamento para a introdução desse sistema “integrado” de coleta seletiva a longo prazo. Essas ações são imprescindíveis, uma vez que a capacidade dos lixões está próxima de seu esgotamento e as condições de vida da população marginalizada são cada vez piores.

Para a pesquisadora, o papel da população em situação de rua é tão importante para que haja mudança nesse sentido, porque tais pessoas “têm o poder de denunciar nossas crises e colocá-las à frente de nossos olhos”. Da mesma forma, coloca como indispensável a atuação de artistas e pesquisadores, que precisam chamar a atenção para o tema.

“O resgate humanitário de um silêncio brutal” em relação à população socialmente excluída é o objetivo dos trabalhos realizados por Maria Cecília e seus orientandos em diversas linhas de pesquisa na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. A professora também realizou projetos de estudo dessa população em outros países, pelos quais recebeu importantes prêmios.

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