São Paulo (AUN - USP) -Deficientes físicos podem se beneficiar da Educação Física ou do ambiente que ela proporciona. Essa é o pensamento de Elisabeth de Mattos, docente da Escola de Educação Física e Esportes da USP. Em palestra sobre esportes adaptados e atividades na terceira idade, ela propôs a integração entre deficientes e idosos. A idéia é que estes atuem como cuidadores dos primeiros.
"Os idosos que fazem parte de grupos culturais e esportivos podem transmitir seus conhecimentos às pessoas com alguma deficiência", alegou Elisabeth. A atitude seria benéfica para os próprios idosos, geralmente excluídos do mercado de trabalho. A professora exemplificou com um caso em seu curso de natação: um deficiente de 30 anos começou a estudar desenho e pintura com um senhor de 60 que antes era encarregado apenas de transportar a neta, também deficiente, para o curso. "Ele diz que passou a se sentir útil por não ser apenas 'chofer' da família".
A proposta de cuidar de um portador de deficiência física aparece como uma solução ao fim dos serviços assistenciais aos mesmos. Após os 18 anos de idade, não há mais escola, ensino integrado ou oficinas especializadas para eles. "Parece que deficiente, quando passa dos 18, morre. A partir daí, se não tiver produzido nada, é problema da família", lamentou a entrevistada.
Em contrapartida a este problema, deficientes receberiam o auxílio de idosos. Tradicionalmente consideradas cuidadoras e solidárias, as pessoas na terceira idade poderiam transmitir seus conhecimentos. “É normal que as avós, depois de trabalharem a vida inteira, se responsabilizem por cria os netos”. Com os deficientes, seria semelhante: eles seriam levados para os grupos de idosos onde aprenderiam a ler jornal, contar fofoca e receberiam orientações na fisioterapia, por exemplo. “Sem força braçal para ajudar, os idosos atuariam como cuidadores dessas terceiras pessoas”.
Inclusão reversa
A professora tratou ainda da ‘inclusão reversa’. Esta se resume em trabalhar com uma pessoa não-deficiente em um grupo formado essencialmente por deficientes. Citando novamente o exemplo de seu grupo de natação, Elisabeth afirmou que o aprendizado se dá no ritmo de cada aluno. “Não há pressão do tempo. No curso, o avanço ocorre devido ao nível de habilidade e condições motoras para tal, não devido à faixa etária”.
De acordo com a docente, os diferentes períodos de maturação física e sexual nos adolescentes são responsáveis pela não-divisão em faixa etária. “Em geral, as pessoas com alguma deficiência são semelhantes às de idade inferior. Na idade adulta, entretanto, são inferiores em tudo”. Com relação aos idosos, a perda de vigor físico com o tempo faz com que se identifiquem com deficientes.
Sobre os benefícios de praticar tal inclusão, apontou a motivação por parte dos não-deficientes. “Para o deficiente, é indiferente. Eles fazem questão apenas de um grupo especializado. Para os outros, por outro lado, é motivante”. Segundo ela, este sentimento aparece do pensamento ‘se eles conseguem, nós conseguimos’ presente na fase inicial do curso.