ISSN 2359-5191

26/09/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 93 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Efeito de maré pode explicar jatos de gelo em satélite de Saturno

São Paulo (AUN - USP) -Como é possível que jatos de vapor de água sejam ejetados de uma superfície totalmente congelada, em um ambiente onde as temperaturas atingem cerca de 200 graus negativos? A explicação para esse fenômeno de Encélado, um dos satélites de Saturno, pode estar no chamado "efeito de maré", que dissipa energia capaz de aquecer a água abaixo da superfície e ejetá-la.

O efeito de maré é causado pela atração gravitacional entre corpos, que se intensifica quando estes se aproximam, podendo até mesmo deformá-los. É esse o mecanismo que se estabelece entre a Lua, o Sol e a Terra e desencadeia o movimento das águas marítimas, desprendendo grande quantidade de energia. O mesmo acontece entre Júpiter e seu satélite Io, onde a energia proveniente do efeito de maré provoca atividades vulcânicas intensas e constantes.

Segundo o professor Enos Picazzio, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, no caso de Encélado, o efeito de maré apresenta-se como o mecanismo mais plausível para explicar a ejeção dos jatos de gelo. A energia dissipada pela atividade gravitacional entre Saturno e Encélado pode causar a fusão da água sólida. O vapor é expelido em jatos que, no espaço frio, se condensam rapidamente na forma de grãos de gelo. O que acontece é uma espécie de "vulcanismo criogênico", ou seja, de temperaturas muito baixas.

Esse fenômeno mostra que pode haver água líquida sob a superfície totalmente congelada do satélite. Mas a particularidade de Encélado não é necessariamente o fato de conter água - outros corpos como Marte e Europa, satélite de Júpiter, também a têm. Encélado se destaca dentre os demais porque é o único que apresenta jatos de vapor de água e grãos de gelo. "Isso leva alguns cientistas a questionar a origem de Encélado e por que ele é tão rico em água", explica o professor do IAG, especialista no estudo de cometas. "Por isso, Encélado pode ser mais um elo na história da formação do Sistema Solar".

Ainda segundo o professor Picazzio, a presença de água não apenas em Encélado, mas em qualquer outro corpo, inclusive a Terra, pode estar vinculada aos cometas, que são compostos por 80% de água. "Eles devem ter tido um papel importante na formação dos corpos do Sistema Solar, abastecendo-os com água e compostos orgânicos por meio de colisões", explica o professor.

A presença de água sólida ainda indica que o satélite de Saturno pode ser responsável pela existência de um dos anéis que envolvem o planeta. O anel fino batizado de E, é feito basicamente de gelo e estende-se pela órbita de Encélado. "A concentração de material é maior no ponto onde está o satélite", expõe Picazzio. "Poderíamos dizer que o anel é formado pelo material que se desprende de Encélado enquanto ele se movimenta ao redor de Saturno".

Os jatos de gelo no satélite foram identificados através de imagens feitas pela Sonda Cassini, lançada em 1997 pela NASA e pela Agência Espacial Européia. Em agosto, a sonda foi programada para realizar uma passagem bem próxima a Encélado, a fim de analisar o fenômeno do gelo.

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br