São Paulo (AUN - USP) -A falta de professores de medicina homeopata cria entraves para o ensino da matéria em algumas universidades brasileiras. O assunto foi tratado durante o Congresso Brasileiro de Homeopatia, que ocorreu recentemente em São Paulo. Em alguns casos um docente não homeopata é obrigado a assinar como responsável pelas aulas, pois não há acadêmicos para comandar a matéria.
Na Faculdade de Medicina da USP, Milton de Arruda Martins, que não é homeopata, é um dos responsáveis pela disciplina Fundamentos da Homeopatia. Em outros locais, como a Universidade Federal de Uberlândia, o fenômeno se repete. Segundo Martins, uma das causas do problema é a homeopatia não ter tradição acadêmica. Ela se desenvolveu basicamente nos consultórios e na relação médico paciente, fora dos ambientes universitários e agora tenta entrar.
Ainda segundo Martins, o problema não está só na graduação. As pesquisas em homeopatia também costumam apresentar dificuldades, pois muitas vezes testam apenas os medicamentos e deixam de lado a terapia homeopática e a relação médico paciente. Para ele, a solução é investir na formação de pesquisadores homeopatas.
A coordenadora da área de Homeopatia da secretária de Saúde do Espírito Santo, Ana Rita Novaes, também aponta a falta de homeopatas. Segundo dados federais há apenas dois médicos homeopatas, ambos em Minas Gerais, inscritos no programa de saúde da família. Para Ana Rita, entrar neste programa, é importante para a homeopatia atingir uma maior parte da população.
No país todo o SUS conta com 710 médicos homeopatas e os estados de São Paulo e Rio de Janeiro concentram mais da metade dos profissionais. E apenas 6% dos municípios brasileiros possuem farmácia homeopática, o que dificulta o acesso aos medicamentos e impossibilita o tratamento dos pacientes.
Nos últimos oito anos o governo federal investiu mais de R$11 milhões em homeopatia, mas o número de consultas continua estável. No ano passado foram R$2 milhões para a realização de 312 mil consultas, número considerado muito próximo da média dos anos anteriores, de 300 mil consultas/ano. Para Ana Rita, a solução é “sair desse isolamento que a gente (homeopatas) se coloca e buscar uma abertura”.
O médico homeopata Ruy Tanigawa concorda com ela. Membro do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) ele aponta que o problema também passa pelos médicos. “Nós homeopatas nos fechamos em nosso mundo”, defende, apontando que isso vai de encontro aos princípios da homeopatia, que coloca uma visão integral do homem.