São Paulo (AUN - USP) -De disciplina curricular do ensino fundamental a área do conhecimento, a Educação Física passou por um processo evolutivo com o tempo. Em meio às discussões sobre as conquistas desta ciência, Go Tani, diretor da Escola de Educação Física e Esportes da Universidade de São Paulo (EEFE-USP), analisou tal processo, a dificuldade de se conceituá-lo e alertou: “produzir conhecimento é pressuposto da Educação Física”.
O curso de formação pode ser distinguido entre as profissões acadêmica e tecnicamente orientadas, de acordo com o professor. Para ele, a primeira requer uma formação de nível superior de quem a exerce. No segundo caso, não há tal exigência. “A Educação Física cobra um corpo de conhecimento que dará base aos programas e procedimentos de intervenção profissional”, analisou, alegando que este conhecimento é o que distancia o professor dos treineiros e ex-atletas.
A respeito da legitimidade profissional, Tani explicou que esta implica em uma legitimidade de conhecimentos que, por sua vez, se dá com investimentos em pesquisa. “Formar profissionais e produzir conhecimentos passou a ser pressuposto da Educação Física”, justificou o diretor da EEFE. Entretanto, apontou dificuldades para essa produção. “A visualização e a compreensão das atividades de pesquisa desenvolvidas nas suas diferentes sub-áreas de investigação não são fáceis para pessoas de outras áreas do conhecimento”.
Na década de 60, foi questionada nos Estados Unidos a classificação desta ciência como nível superior devido à falta de investigação científica. Reação a este estudo, uma conseqüência direta foi o crescimento de pesquisas e publicações de diversos artigos científicos. No Brasil, todavia, Tani ainda considera a Educação Física incipiente como área do conhecimento.
Apesar do alegado atraso, 21 cursos de pós-graduação existem no país com aproximadamente 500 doutores e mestres em Educação Física. Nos últimos cinco anos, cerca de 100 artigos foram publicados em periódicos internacionais por mais de 35 docentes.
Cultura e desenvolvimento motor
Go Tani trata a Educação Física com base em elementos do desenvolvimento motor, procurando discutir como o indivíduo aprende habilidades e tarefas motoras necessárias à sua vida. Por outro lado, aponta a cultura como dimensão conseqüente do aspecto biológico do homem: modelos culturalmente determinados aparecem após aqueles considerados básicos. Como conseqüências dos níveis geneticamente determinados, são elementares no processo de desenvolvimento motor.
Tal pensamento aponta a cultura como algo exterior ao homem: produto de suas ações e conseqüência de sua evolução biológica. Esta visão de cultura aparece na medida em que se tenta ‘mapear’ o desenvolvimento motor considerando suas etapas e contribuindo para a definição dos conteúdos escolares.