São Paulo (AUN - USP) -A Modernidade poderia ser o estágio vigente e próspero da humanidade. Definida como a superação da barbárie por meio do desenvolvimento da razão, aplicação da técnica e consolidação de instituições políticas, bastaria observar as conquistas tecnológicas e médicas obtidas ao longo do século XX. No entanto, a realidade é marcada por contradições e tragédias. A ciência armamentista, duas Guerras Mundiais e a instrumentalização do homem pelo mercado provaram que a violência persiste e, de fato, está enraizada no sistema.
O professor da Faculdade de Direito da USP, Eduardo Carlos Bianca Bittar, apontou as principais incoerências presentes entre os discursos modernos e a atual organização social na palestra “O mal estar do Direito na Pós-Modernidade”, realizada no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, recentemente.
A lógica do pensamento moderno, segundo Eduardo Bittar, se funda no principio de que o homem vive em civilização, organização baseada na razão e, portanto, livre da violência primitiva. A vida, então, deveria ser regulada, segura e próspera. No entanto, é a força da virilidade, incutida no conjunto das formas de afirmação do próprio sistema, que se sobressai. “O foco reside na força animal, corporal, ou na força da economia, da militarização, da capacidade competitiva de uma empresa em destruir a outra. São todos traços de poder e domínio. E pouco tem a ver com as estratégias do discurso moderno que, de certa forma, servem até de arquétipo dos direitos humanos”, declarou.
Bittar apontou também que se busca estabelecer as idéias de liberdade e fraternidade. Mas, de fato, os laços sociais são construídos na disputa capitalista, onde há luta por emprego e por dinheiro a todo o custo. Já o livre arbítrio se limita a escolhas de produtos, cuja necessidade é induzida pelo consumismo e pela propaganda. Em outras palavras, os princípios norteadores da Modernidade foram deturpados e criaram um sistema institucionalizado, no qual a opressão e a insegurança são crescentes. No esforço do racional e do ideal, o resultado foi o caminho da força e barbárie implícita.
A análise das contradições presentes na Modernidade induziu alguns pensadores como Zygmunt Bauman e Freud a enxergarem um novo paradigma histórico: a Pós-Modernidade. Eduardo Bittar segue essa filosofia. Ele explicou que a atual realidade supera o período anterior e sua ingenuidade ao criticar as divergências entre discursos e ações, a razão utilitarista e o capitalismo explorador. “O pensamento Pós-Moderno não surge por acaso. E não é originado no gabinete de estudos de sociólogos ou filósofos. Ele surge da História, de suas contradições. É uma construção dos escombros da Modernidade”, afirmou.
Por fim, Bittar discutiu a possibilidade de superação das contradições. Segundo o acadêmico, é preciso refletir na Pós-Modernidade uma nova forma de organização social. Pode ser considerado um grande desafio, pois se pressupõe um esforço racional para encontrar uma saída de uma produção que se baseou na própria razão.
Organizada pelo Instituto de Psicologia, a palestra ”O mal estar do Direito na Pós-Modernidade” faz parte dos diálogos “Psicanálise e teoria política e social contemporânea” cujo, objetivo é estabelecer uma ligação entre Psicologia e diferentes disciplinas com a participação de figuras prestigiadas no meio acadêmico.