São Paulo (AUN - USP) - Criminoso e devastador em qualquer outra formação vegetal, o incêndio no cerrado é fundamental para a preservação da vida deste importante domínio ecológico brasileiro. A observação é do professor Leopoldo Magno, do Departamento de Ecologia do IB-USP (Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo).
As conclusões acerca dos efeitos benéficos da queimada no cerrado são resultado de quase 40 anos de pesquisa de Magno. Desde 1969 ele estuda a formação vegetal com base em observações de áreas do Parque Nacional das Emas - reserva de cerrado no extremo sudoeste do estado de Goiás - e da cidade de Pirassununga, no estado de São Paulo.
Amostras de carvão encontradas no subsolo do Parque das Emas permitiram ao professor e sua equipe de pesquisa, após determinar a idade dos fragmentos, concluir que as queimadas são fenômenos naturais no cerrado há mais de 8.000 anos. Provocadas majoritariamente por raios, elas ocorrem por causa da vegetação seca e rasteira da típica da formação, que favorece a propagação do fogo.
Com base nessas constatações, Magno explica que a vegetação dessas áreas evoluiu com a presença das queimadas. O fogo atuou como um fator de seleção biológica, favorecendo a sobrevivência apenas de formas de vida resistentes ao calor e aos efeitos das chamas.
O resultado dos milênios de ação do fogo sobre os campos cerrados pode ser percebido a olho nu: predominam árvores de troncos espessos e arbustos com maior propensão à reprodução após os incêndios.
O professor pôde observar, ao longo do tempo de pesquisa, que em períodos curtos, de cinco a 25 dias após as queimadas, muitas espécies de vegetação rasteira renasciam mais vigorosas e propensas à formação de flores. A paisagem seca e árida anterior à queimada cede lugar ao que o professor descreve como um “jardim”.
Fauna
Os incêndios também são fator importante na preservação da vida animal do cerrado. Por causa do aparecimento de flores, espécies de abelhas típicas da região são atraídas e têm sua sobrevivência garantida.
O veado campeiro, espécie que desperta a atenção de ecologistas devido à redução de suas populações nos últimos anos, são igualmente beneficiados pelos efeitos das queimadas. Atraídos pela exuberância da vegetação após o incêndio, esses animais encontram importante fonte de alimento, fundamental para a manutenção de um dos mais importantes animais de grande porte do cerrado.