São Paulo (AUN - USP) - O atual descrédito em torno da palavra “política” e também seu verdadeiro significado foram temas de uma mesa de debates na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. Organizada por alunos da faculdade em 25/09, o evento foi parte do EPA! (Encontro Projeto e Ação), e contou com a presença da deputada federal Luiza Erundina (PSB) e do professor José Sérgio Carvalho, da Faculdade de Educação da USP.
Carvalho, antes de começar sua exposição sobre o histórico do termo “política”, lembrou os tempos da eleição de Erundina para a prefeitura de São Paulo, em 1988. Segundo ele, a candidata de esquerda derrotou o favorito Paulo Maluf graças à união de várias pessoas que queriam mudança e renovação, destacando também a importância da atuação coletiva, em grupo, como forma de atingir um grande objetivo.
Em seguida, Carvalho deu início a uma aula de História, voltando aos tempos da Grécia Antiga. De acordo com o professor, especialista em Filosofia da Educação, a origem do termo “política” vem do modelo de cidade grega, a “Pólis”. Os cidadãos da Grécia, aponta ele, viviam em duas esferas: a comum e a particular. Na primeira, o homem se expõe, vive para a Pólis, ou seja, para o bem comum, tornando-se assim um homem “político”, que discute como gerenciar e organizar aquilo que é de todos. Já a segunda é sua casa, onde o homem se protege da exposição e se recupera. Fechando o raciocínio, Carvalho pontuou: “a coragem de se expor é a maior virtude política”. Para terminar, o professor apontou também o motivo da perda de significado da palavra: “Atualmente a esfera pública é apenas um trampolim para se alcançar o sucesso na vida privada”.
Erundina, então, assumiu a voz. A deputada destacou a importância do evento, afirmando que o tema discutido está em evidência durante a corrida para as eleições de outubro. Emotiva, explicou que a perda de sentido do termo “política” se deve ao fato de que faltam duas coisas que dão sentido a ela: “Hoje, a política está afastada do povo e dos jovens. Sem esses dois grupos, a política não tem sentido”. Lembrou do início da década de 80, quando o Brasil passava por um processo de redemocratização após anos de Ditadura Militar. Para Erundina, as efetivas transformações políticas que ocorreram naquele período só foram possíveis devido à união do povo (trabalhadores) com os jovens, cheios de esperanças e utopias.
A ex-prefeita de São Paulo ainda lembrou seus tempos de palanque e declarou que na política atual vemos apenas os chamados “carreiristas” (também conhecidos como “profissionais da política”) e que, para re-significar a palavra, deve-se resgatar os sonhos e as motivações de outros tempos. Segundo Erundina, o povo e a juventude devem ser reintegrados à política para que seja implantado um novo projeto de sociedade e de cidade. Finalizou dizendo que a palavra “democracia” também deve ser re-significada: “A sociedade deve exigir, cobrar e fiscalizar os políticos. Só assim o Brasil será uma democracia completa, no real sentido da palavra”.