São Paulo (AUN - USP) - Um dos grandes problemas enfrentados pelos zoológicos que buscam abrigar animais selvagens sempre foi a preocupação com a saúde e bons tratos com esses animais. Muitas vezes vistos como vilões por aprisionar vários espécimes apenas para o olhar do visitante, esses locais, nos últimos tempos realizaram grandes mudanças no trato para com os bichos que se encontram fora do seu habitat, com vistas a garantir sua aprovação perante o público e a mídia. Contudo, nos últimos tempos cada vez mais veterinários que lidam com esses animais percebem que não basta mais apenas oferecer conforto e mimos. Ao contrário, esse pode ser um dos problemas.
Dos grandes desafios para manter animais em cativeiro o maior pode ser considerado o de equiparar as situações vividas nesses locais ao sistema de vida selvagem desses animais. Para o estudo dessa área surgiu o campo denominado Enriquecimento Ambiental (EA). Recentemente a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), da USP, recebeu a I Conferência Brasileira de Enriquecimento Ambiental, organizada pela The Shape of Enrichment (TSE), uma instituição internacional, cuja missão é estimular o Enriquecimento Ambiental para animais cativos em todo o mundo.
“O EA é um aumento da complexidade. A forma como você torna o ambiente mais estimulante visando uma melhor qualidade de vida para os animais”, afirma a professora Cristiane Schilbach Pizzutto, formada na FMVZ, e uma das coordenadoras do Shape Brasil, também responsável por organizar o braço da instituição no país.
A palestra apresentada por Cristiane abordou o tema: Será que o seu Enriquecimento está Funcionando? “Nela, há uma tentativa de explicar todas as fases de um EA adequado. Desde estabelecer um planejamento, escolhendo metas e decidindo o que você quer para o seu EA, até as técnicas que serão utilizadas (comportamental ou hormonal)”, diz Cristiane. A pesquisadora desenvolve também métodos não evasivos para verificar se as técnicas de EA estão funcionando adequadamente. “Antes, para medir o nível de stress, precisávamos tirar sangue, o que muitas vezes ocasionava um stress apenas pelo ato. Hoje, nós desenvolvemos maneiras de aferir esses níveis sem tocar no animal, apenas com fezes e urina dos mesmos”.
O evento contou também com a presença de Valerie Hare, fundadora e editora do Shape of Enrichment, e do professor Marcelo Alcindo de B. V. Guimarães, do Departamento de Patologia (VPT), da FMVZ, que participou de uma mesa-redonda com o tema: “Enriquecimento, Bem–Estar e Estresse”.