São Paulo (AUN - USP) - Exames em laboratório são a principal deficiência do Sistema Único de Saúde brasileiro. É o que mostra pesquisa feita pelo IBGE, que compara o número de internações, atendimentos, medicamentos e laboratórios entre o sistema público de saúde e o sistema privado.
Em seminário realizado na Faculdade de Saúde Pública da USP sobre a saúde da mulher e políticas públicas, a professora Virgínia Junqueira criticou a supervalorização do equipamento médico-hospitalar no Brasil, em especial na cidade de São Paulo. “Ficamos dependentes da tecnologia mais cara, e criamos uma idéia falsa de que é preciso ter muitos equipamentos, o que não acontece em outros lugares do mundo.”. O resultado é que o sistema privado acaba sendo responsável por grande parte dos laboratórios.
O SUS, que supera os hospitais particulares em número de internações (com 55%), (com 73%) de atendimentos e de oferta de medicamentos (com 80,3%), fica extremamente enfraquecido no setor de exames e diagnósticos (com apenas 11,6%), os quais são muitas vezes encaminhados à rede privada. De acordo com a especialista, falta investimento em laboratórios públicos, porém, a maior barreira está na cultura: “O equipamento de tecnologia mais simples dá insegurança ao consumidor, pelo simples fato de existir a mais cara.”.
Listas de espera
Outro problema levantado pela professora, que é pesquisadora do Instituto de Saúde do Estado de São Paulo, foi a falta de transparência do SUS. “Não há controle público sobre o sistema, por isso ele não anda”, criticou ela, referindo-se, entre outras coisas, à relutância do governo em divulgar as listas de espera por transplantes. “Se a população tivesse o controle sobre estas listas, certamente se sentiria menos injustiçada.”
A boa notícia, para quem espera receber um novo órgão, é que o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, acaba de lançar uma série de medidas para melhorar as condições de transplantes no país. Entre elas, está o novo sistema de gerenciamento e transparência, que prevê a divulgação das listas de espera através da internet em até 60 dias.
A medida é um grande avanço para o poder público, porém ainda mostra certa timidez. O acesso será restrito aos próprios pacientes, que aguardam a doação, e aos médicos responsáveis. Além disso, a informação disponível será apenas a colocação do paciente, e não a lista completa. Assim, as razões da espera continuam fora do alcance do público, e o seu poder de fiscalização fica limitado.
A discrição, porém, tem justificativa. A legislação médica prevê total sigilo aos nomes dos pacientes, por isso, eles não poderiam vir ao conhecimento público. É uma disputa entre os direitos individuais e públicos que não dá sinal de que vai acabar.