São Paulo (AUN - USP) - A Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP) e o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) iniciaram negociações sobre o projeto de um curso para atualização (ou reciclagem) para treinadores, com a finalidade de promover a técnicos de diferentes confederações esportivas do país informações modernas que englobam o meio esportivo.
Segundo Valmor Tricoli, professor da EEFE, a idéia do curso é abordar aspectos psicológicos, nutricionais, biomecânicos, de aprendizagem motora, de treinamento e organização de treinos, sem especificidades em nenhum esporte. Isto significa que, num estágio inicial, o curso não foca em nenhuma modalidade.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o COB afirma que ainda não há nada oficial, pois nenhum documento formal foi enviado à entidade. O que existe de concreto até o momento é apenas um início de conversas para a parceria e o esboço do projeto, que teria chegado às mãos de coordenadores do comitê antes dos Jogos Olímpicos de Pequim, realizados em agosto deste ano.
Segundo Tricoli, o curso é necessário para preencher uma defasagem dos técnicos, que muitas vezes procuram ajuda no meio acadêmico para buscar uma maneira de melhorar o desempenho dos atletas os quais treinam, mas não sabem explicar exatamente o que precisam devido a uma formação defasada ou antiquada.
A atualização faz parte também de uma tentativa de aproximação da produção do conhecimento na área do esporte com o desempenho esportivo. Neste sentido, Tricoli ministrou recentemente uma palestra no XII Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física dos Países de Língua Portuguesa, evento sediado no campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Com o nome “Treinamento e Desempenho Esportivo: ruídos entre as ciências do esporte e a prática profissional”, a palestra do professor aborda a dificuldade de se relacionar a produção acadêmica da área de esportes à aplicação prática dessas idéias. Na universidade, essa dificuldade se apresenta pelas próprias características do meio acadêmico, que nem sempre produz conhecimento para ser aplicado no esporte.
Para preencher essa lacuna, o professor cita propostas de alguns autores, além de sugestões já existentes, como o caso da criação de Institutos de Esporte (experiência já vivida em países como a Austrália), onde pesquisadores da área tentam resolver os problemas do esporte, inclusive em casos relacionados à melhora de desempenho. Nesses Institutos também trabalham profissionais que fazem o que Tricoli chama de “tradução do conhecimento”. São doutores que, após sua formação acadêmica em áreas como Biomecânica, Fisiologia e Psicologia, não voltam sua produção para a universidade, mas sim para a interpretação do conhecimento acadêmico na aplicação prática.
Por fim, ele ressalta a importância de veículos que divulguem o conhecimento produzido nos Institutos de Esporte. Trata-se de palestras, congressos e mídia escrita. Esta última deve funcionar em dois campos: primeiramente, tem de proporcionar uma linguagem acessível aos treinadores (o que, para ele, não acontece hoje devido ao alto nível de academicismo das publicações); em segundo lugar, deve haver periódicos multidisciplinares, com aspectos das ciências do esporte aplicados à prática profissional.