São Paulo (AUN - USP) -Um estudo do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP vem analisando a atividade sísmica na Província Borborema, estrutura geológica que corresponde à região entre o Ceará e o norte da Bahia. A pesquisa, coordenada pelo professor Jesus Berrocal do Departamento de Geofísica, tem por objetivo analisar as possibilidades de ocorrer um terremoto maior (risco sísmico), explicar as causas da sismicidade e determinar o epicentro dos sismos que ocorrem com freqüência nesta que é a região mais sísmica do Brasil.
Estão sendo analisadas quatro estações sismográficas, instaladas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 2007, que são responsáveis por captar a incidência e a maginitude de eventos sísmicos. Elas estão localizadas nas proximidades das cidades de Sobral (CE), Ocara (CE), Pau dos Ferros (RN) e Agrestina (PE). Em cinco meses, foram registrados cerca de 500 sismos – ou seja, tremores de terra – com magnitude entre 0,8 negativo e 2,6 positivo na Escala Richter. Como são valores baixos, a maioria dos os tremores raramente é sentida pela população. De acordo com os registros do Boletim Sísmico Brasileiro, o evento mais forte já registrado na região ocorreu no Ceará na década de 80, com magnitude de 5,2.
Segundo o professor Berrocal, os sismos se explicam graças ao movimento não-uniforme das placas tectônicas Sul-Americana e Nazca, o que provoca a reativação de falhas geológicas antigas. Em Borborema, as maiores delas são a de Pernambuco e de Patos. O professor explica que, no passado, quando a América do Sul ainda estava ligada à África, a região de Borborema deve ter tido uma atividade sísmica muito intensa, por conta dessas falhas, que aparecem no Nordeste mais do que no restante do país.
Entretanto, hoje, a probabilidade de um grande terremoto é pequena, já que o Brasil localiza-se numa região intraplaca, ou seja, tem a totalidade de seu território sobre a Placa Sul-Americana, relativamente longe de suas bordas. A incidência de eventos sísmicos é muito maior no encontro de duas placas, como a região andina, por exemplo. Mas há de se ressaltar que mesmo regiões intraplaca já sofreram tremores de terra bastante intensos, devido a falhas geológicas reativadas, tais como as de Borborema. No entanto, as chances não são nulas: o terremoto de 1811 em New Madrid, Estados Unidos, foi um dos mais devastadores em regiões intraplaca; também há casos registrados na Austrália e na Índia. No Nordeste brasileiro pode ocorrer um terremoto de magnitude ainda maior que os dois mais fortes já registrados no Brasil, em Mato Grosso e Espírito Santo.
O "Estudo da atividade sísmica na Província Borborema, Nordeste do Brasil", que conta com dois alunos bolsistas do IAG, Fábio Dias e Pedro de Almeida Barros, faz parte de um projeto que envolve, além da USP, a UnB, a Unicamp, as Universidades Federais do Rio Grande do Norte e do Ceará, o Observatório Nacional do Rio de Janeiro e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Em 2005, o projeto recebeu o aporte de R$ 3,5 milhões depois de ser aprovado pelo Programa Institutos do Milênio, do Ministério da Ciência e Tecnologia.
O objetivo da parceria entre as instituições é analisar a estrutura do interior Terra na região e identificar estruturas geológicas que possam estar relacionadas às reservas de minérios. Para tanto, deverão ser instaladas outras 40 estações sismográficas, além de duas linhas de refração sísmica ao longo de 800 quilômetros. A Petrobrás, através de sua Rede de Estudos Geotectônicos, foi responsável pela compra dos equipamentos necessários às pesquisas, em um total de R$ 10 milhões. Deste modo, no futuro poderão ser realizados outros estudos geotectônicos no Brasil, similares ao da Província Borborema, com a mesma qualidade dos europeus e norte-americanos.