São Paulo (AUN - USP) -Treze empresas do ramo da construção civil brasileiras estão com ações desvalorizadas na bolsa de valores de São Paulo, a Bovespa, desde o início da crise financeira global. Em um ano, a queda do valor de mercado de suas ações chegou a ficar abaixo de seu valor patrimonial. De setembro de 2007 a setembro de 2008, as ações das empresas com grandes movimentações no mercado financeiro, as “blue ships”, se desvalorizaram em 65%. Por sua vez, as empresas de menor aporte de transações na bolsa de valores, as “small caps”, viram suas ações caírem em 50% no mesmo período.
Se comparados os valores atuais das ações com seus valores da época em que as empresas abriram capital, as mais penalizadas foram as “small caps”, cujas ações atualmente valem aproximadamente 45% de seu valor inicial. Essa é a visão do professor Cláudio Alencar, do Núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da USP.
Mesmo as chamadas “property companies”, focadas em investimentos em imóveis para geração de renda, como shoppings centers, e outros tipos de centros comerciais, também estão com ações bastante voláteis no mercado. “No mundo inteiro o valor das ações dessas empresas é mais estável”, afirma o professor.
Ele acredita que um dos motivos para a instabilidade das ações das empresas brasileiras de construção civil deve-se ao grande quantidade de investimentos estrangeiros. Com a crise global, esses investidores têm liqüidado seus papéis investidos no Brasil para compensar as perdas financeiras em seus países de origem. Isso provocou uma saída em massa do capital estrangeiro aplicado na Bovespa, o que levou à queda das ações das empresas brasileiras nos últimos dias.
Crise setorial
A crise no setor imobiliário, no entanto, já vem desde o ano passado. Segundo o professor Alencar, a instabilidade financeira global que eclodiu em meados de setembro apenas serviu como um catalisador da crise do ramo. Uma das razões apontadas pelo professor foi a supervalorização das perspectivas de crescimento das ações feita pelos bancos de investimento. “As empresas foram avaliadas num patamar superior ao que realmente poderiam valer”.
A aquisição de bancos de terras, os “land banks”, pelas construtoras no início da abertura de capital é outro fator apontado pelo professor que estimulou a queda das ações. Ao abrirem capital, a maioria das empresas preferiu fazer um banco de terras para mostrar aos acionistas que a empresa teria um potencial de geração de receita grande. “Mas rapidamente isso se revelou uma estratégia ruim porque as empresas ficaram sem caixa pra desenvolver os projetos”, afirma o professor.
Alencar também aponta a dificuldade dos analistas de investimentos na leitura dos balanços das empresas do ramo de construção civil. “O setor da construção civil tem uma particularidade que é trabalhar com investimento cujo retorno se dá no longo prazo”. Segundo o professor, “esses analistas não conseguem enxergar e transmitir aos investidores, a partir da leitura do balanço das empresas, essa característica”. Enquanto os acionistas queriam uma produção contínua de dividendos, as empresas apresentavam resultados esparsos e em um longo prazo, o que provocou fuga e pressão na queda das ações do setor.
No caso das “small caps”, as mais penalizadas com a crise setorial e global, o fator apontado para a desvalorização de suas ações foi a restrição de seu plano de ação. “Muitas empresas sempre atuaram na média e alta renda somente na região de São Paulo e continuaram com esse mesmo foco. Isso não foi muito bem visto pelo mercado”, aponta o professor.
Soluções
De acordo com Alencar, uma das soluções que as empresas têm encontrado para superar a crise é chamar o capital dos sócios para mostrar ao mercado que existem recursos em caixa na empresa, garantindo maior confiabilidade ao mercado, incluindo investidores, compradores e fornecedores.
Outra ação que tem sido realizada pelas empresas para segurar o valor das ações é a revisão das metas e a redução das projeções. De acordo com o professor Alencar, o objetivo é “mostrar para o mercado que elas não vão sair fazendo empreendimentos loucamente.
Cláudio Alencar também defende a redução da taxa básica de juros como forma de estimular a captação de recursos para o desenvolvimento de novos projetos e para estimular o mercado consumidor.
“Precisa ver como o Banco Central (BC) vai agir para manter o combate à inflação, mas sem exagerar na mão de tal sorte que a atividade econômica ficasse muito prejudicada, porque vai ter que ter recurso para as empresas”.
O professor acredita que, seguindo o que aponta ser a tendência dos bancos centrais mundiais, o BC brasileiro vai buscar reduzir a taxa de juros e, com isso retomar o crescimento do setor da construção civil.