São Paulo (AUN - USP) -A falta de médicos nas regiões carentes é um dos grandes problemas da saúde no Brasil, segundo o ex-ministro da área Adib Jatene. Em palestra realizada na Faculdade de Medicina da USP, onde leciona, destacou que a população mais pobre tem muita dificuldade no acesso ao sistema de saúde de qualidade.
“Nas áreas mais carentes os profissionais que ela necessita, principalmente médicos, não querem morar lá”, resume. Para ele, ocorreu no país um crescimento urbano desenfreado como conseqüência do desenvolvimento industrial das décadas de 1960 e 1970.
O resultado deste processo foi o surgimento das “cidades-dormitório” e a ampliação das periferias nos grandes centros. “Nós demos ênfase ao desenvolvimento econômico e deixamos em segundo plano o desenvolvimento social”, aponta.
Estas áreas periféricas são uma das que mais sofrem com os problemas do sistema de saúde. Para exemplificar, Jatene fez um levantamento sobre o número de leitos disponíveis nos diferentes bairros da cidade de São Paulo. Constatou que nos 11 distritos mais ricos existe uma relação de 26 leitos para cada 1000 habitantes, enquanto 39 áreas, nas quais residem 4 milhões de pessoas, não possuem nenhum leito.
Outro ponto que recebeu críticas é a falta de médicos no Brasil hoje. Enquanto na União Européia a média é de 3,2 médicos para 1000 habitantes e em Cuba esta relação alcance quase cinco médicos por milhar, no Brasil existem apenas 1,6 médicos por 1000.
Segundo Jatene, cerca de metade destes profissionais estão nas capitais, que respondem por apenas 20% da população. Assim os outros 80% dos brasileiros, que vivem no interior, sofrem com poucos médicos. E na região nordeste a concentração é ainda maior.
Para o ex-ministro, porém, nem tudo é noticia ruim. O projeto “Saúde da Família”, do governo Federal, é apontando como uma saída. Ele consiste em formar agentes comunitários locais capazes de mapearem as condições de saúde das áreas mais carentes e equipes de médicos que possam atender nestes locais. Outro ponto ressaltado é o investimento em saneamento básico, que pode diminuir o número de doentes.
Além disso, ele destacou também o desenvolvimento tecnológico que a saúde vêm passando nas últimas décadas. Graças a isto ocorreu “evolução absolutamente fantástica”, que permitiu o crescimento da expectativa de vida no país. Mas por último Jatene fez uma ressalva, “melhoramos muito, mas ainda temos muito a progredir”.