ISSN 2359-5191

16/10/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 106 - Economia e Política - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Falta de regulamentação provocou crise financeira

São Paulo (AUN - USP) -A grave crise de confiança que tomou conta das Bolsas de Valores nas últimas semanas foi causada pela falta de regulamentação no sistema financeiro mundial. Essa é a opinião de Leda Maria Paulani, professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), apresentada recentemente em debate organizado pelo Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC) que reuniu professores da unidade para discutir o assunto.

Segundo Leda, o que está por trás dessa crise é a lógica que passou a dominar a forma de funcionamento da economia capitalista – particularmente a partir de 1980 – conhecida como globalização financeira e caracterizada por um vácuo regulatório. Assim, o capitalismo se desenvolve fora do arbítrio do Estado.

Para entender o fenômeno é preciso voltar no tempo. Ela explica que entre 1945 e 1970, os mercados financeiros mundiais viveram um momento de grandes regulamentações. “No plano internacional, a gente tinha o regime de Bretton Woods que coordenava os regimes cambiais e cuja base era o atrelamento do dólar ao ouro. O dinheiro mundial já era o dólar americano, mas tínhamos um dólar que em última instância estava sustentado por uma coisa material”.

A regulamentação internacional fazia com que o sistema monetário fosse hierarquizado e controlado de maneira efetiva pelo Estado. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as nações passaram a regular suas economias domesticamente buscando evitar situações dramáticas como a gerada pela crise de 1929 que trouxe profunda recessão. Para se ter uma idéia, nessa época, o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA chegou a perder 50% de seu valor e só começou a se recuperar sete anos após o início do colapso financeiro.

“Em virtude disso, os Estados decidiram que deveriam monitorar a economia sob o pressuposto de que o capitalismo deixado à própria sorte é capaz de produzir crises abissais. Tal postura regulatória permaneceu até o fim dos anos 70. Por uma série de razões esse mundo começou a não funcionar muito bem, especialmente devido a questões políticas. Junto a isso, houve o desenvolvimento do chamado Euromercado, uma riqueza financeira sem pátria e, portanto, longe dos Bancos Centrais”, diz Leda.

Essa riqueza financeira que surgiu buscava se valorizar e teve início uma “gritaria” pela desregulamentação, pois o capital financeiro é volátil por definição. “Ele precisa ter muita liberdade para saltar de um território para o outro. Mas não pode se movimentar e nem ter sua vida plena num mundo cheio de regras. Com isso, foi criada uma máquina de produzir instrumentos para se escapar da regulamentação”, afirma.

Para se ter uma idéia, de 1980 a 2006, o valor da riqueza financeira cresceu 14 vezes. No mesmo período, contudo, o PIB mundial cresceu menos de 5%. “Há um descompasso enorme. O mundo passou a viver sob uma inflação muito mais reduzida no que diz respeito aos fluxos, as rendas, mas, no que diz respeito aos estoques, aos volumes de riqueza financeira, tivemos uma inflação de ativos. Uma riqueza patrimonial absolutamente inflacionada. Evidentemente, esse descompasso acabou se tornando visível”, afirma.

Nesse sentido, a crise do chamado subprime americano (hipotecas de alto risco financiadas pelos bancos a juros muito baixos para pessoas com histórico de más pagadoras) que causou o colapso nos mercados financeiros é apenas a “ponta do iceberg” do problema, destaca Leda . “O sistema financeiro deve ser diretamente monitorado pelos governos. Deve ser regulamentado para que terremotos como esse que estamos vivendo sejam evitados. Os bancos de investimento e as companhias imobiliárias americanas, na maior parte dos casos, foram atrás das pessoas para oferecer empréstimos. Em diversas situações, elas estavam tranqüilas em suas casas e os bancos ligavam perguntando se não queriam refinanciar suas hipotecas. Por quê? Porque os mercados foram deixados ao Deus dará”.

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