São Paulo (AUN - USP) -Mal-estar, dificuldade para pegar no sono, sonolência diurna, alterações no humor e nos hábitos alimentares e dificuldades de concentração. Essa lista, que lembra uma seção de efeitos adversos em bulas de medicamentos, fará parte do cotidiano de muitas pessoas dentro dos próximos dias, com o início do horário de verão. Os sintomas denunciam: a prática causa desgastes no organismo por perturbar a sincronia do que conhecemos como “relógio biológico”.
O horário de verão, que entra em vigor à meia-noite do próximo domingo (19), busca a economia de energia elétrica ao adiantar em uma hora os relógios de todos os Estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Embora pareça pequena, a alteração força uma série de adaptações do corpo, desde ajustes na variação de temperatura a mudança na duração do ciclo vigília-sono (a relação entre o tempo em que ficamos acordados e em que dormimos).
Segundo o professor Luiz Menna-Barreto, do ICB-USP (Instituto de Ciências Biomédicas-Universidade de São Paulo), em condições normais, os diversos ritmos das funções do organismo humano estão sincronizados entre si, e também ao ciclo claro-escuro do ambiente. Ao se adiantar o relógio em uma hora, o organismo sincroniza seus ritmos ao novo horário. No entanto, como cada ritmo tem uma velocidade própria de ajuste, por algum tempo a relação entre as funções fica alterada. Desse descompasso resultam as sensações de mal-estar.
Ideal para o organismo seria justamente o contrário. Menna-Barreto, que também é coordenador do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos, explica que o corpo humano é naturalmente inclinado ao atraso. “Nosso sistema de temporização tende a se expressar em um período um pouco superior a 24 horas. Veja, por exemplo, o que acontece nos finais de semana. Tendemos a dormir e acordar mais tarde do que durante a semana. Esse ‘atraso de fim de semana’ é interpretado como uma tendência natural a atrasar o relógio biológico”, explica o professor.
Os efeitos da perturbação no relógio natural, de acordo com Menna-Barreto, variam de um organismo para outro, podendo até mesmo passar despercebidos para alguns. Entretanto, para outros, as alterações são mais relevantes. A sonolência e as dificuldades para se concentrar podem acabar provocando, por exemplo, acidentes de trânsito.
Por isso mesmo, para minimizar os efeitos da mudança de horário, o professor recomenda, em primeiro lugar, que se tente dormir uma hora antes na noite de passagem para o horário de verão. Além disso, nos primeiros dias, dormir com a janela entreaberta, para acordar com a claridade – e não com o despertador, ajuda a restabelecer a sincronia dos ritmos corporais.
Menna-Barreto lembra que, embora os efeitos incomodem, não chegam a ser prejudiciais para o organismo. Além disso, graças à plasticidade das funções fisiológicas humanas, dentro de poucos dias o corpo já está ajustado, funcionando em sintonia com a nova realidade.