São Paulo (AUN - USP) - Passar horas observando uma torneira gotejando... Muitos talvez achem isso uma tarefa tediosa. Não é o que pensam os pesquisadores do Laboratório de Fenômenos Não-Lineares do Instituto de Física da USP. A Torneira Gotejante é a principal experiência deste laboratório fundado em setembro de 1994, com financiamento da FAPESP, cujos estudos buscam verificar os modelos matemáticos dados pela Física teórica para os eventos caóticos. Isto é, as fórmulas que tentam prever sistemas que não apresentam uma periodicidade regular são postas em prática.
Além da experiência da torneira, que estuda a dinâmica de formação de gotas medindo-se o tempo entre uma e outra sob diferentes condições, há estudos que analisam a emissão de bolhas de ar em substâncias viscosas, como o realizado pelo pós-doutorando Alberto Tufaile, bem como o comportamento de circuitos elétricos, os fenômenos ondulatórios e até experimentos com neurônios de crustáceos. O ponto em comum de todas essas pesquisas é o fato de representarem eventos que, em algum momento, atinjam o Caos. Ou seja, tornem-se previsíveis apenas para espaços de tempo muito pequenos. Ao contrário do que ocorre em sistemas lineares, em que a previsibilidade chega ao infinito.
A comprovação prática da Teoria do Caos não serve apenas para consolidar as teorias da Física. Mais que isso, auxiliam no desenvolvimento de outros campos científicos. O coordenador do Laboratório de Fenômenos Não-Lineares, professor José Carlos Sartorelli, ressalta o caráter multidisciplinar dos experimentos. Por exemplo, no caso das experiências com neurônios de crustáceos, que vão se iniciar em breve, sob responsabilidade do professor Reynaldo Daniel Pinto, será estudado o funcionamento de células que se comportam linearmente quando estão em conjunto, porém, caoticamente quando isoladas. Foram desenvolvidos circuitos elétricos que simulam o comportamento dessas unidades nervosas e podem substituir células danificadas. Como o funcionamento dos neurônios dos seres mais primitivos e os dos mais complexos possuem muitas semelhanças, os resultados dessa pesquisa poderão auxiliar em tratamentos de traumas em circuitos neurais humanos.
Uma outra pesquisa, iniciada recentemente e com os equipamentos ainda em fase de testes, é o estudo de ressonadores acústicos, que podem ser usados como sistemas análogos no estudo do Caos Quântico. A pós-doutoranda Adriana Tufaile explica que, pelo comportamento análogo entre os eventos acústicos e quânticos, podem-se realizar experimentos com ondas mecânicas (que se propagam em um meio material, como o som) de mais fácil observação do que os fenômenos quânticos, que ocorrem em dimensões subatômicas. As experiências aqui tentam fazer o elo prático com a Teoria das Matrizes Aleatórias, estudada por um grupo de físicos teóricos do próprio Instituto de Física da USP, liderado pelo professor Maurício P. Pato.
Os que ainda acham que torneiras gotejantes e essas experiências são caóticas demais para serem entendidas podem tentar desfazer essa idéia acessando o site do Laboratório em http://fge.if.usp.br/~sartorel/lab.html.