São Paulo (AUN - USP) - Deficiência mental ainda é tabu nas escolas brasileiras. É o que mostram as discussões travadas entre professores e médicos na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, durante o I Encontro de Saúde Mental e Educação.
Atualmente, o apoio às crianças com deficiência no Brasil depende principalmente de iniciativas filantrópicas, ainda bastante isoladas. Com a recente criação dos CAPSi (Centros de Atenção Psicossocial Infantil), ligados ao SUS, esse cenário tende a mudar. Porém, a inserção nas escolas ainda é uma realidade distante.
De acordo com o professor Alberto Olavo Advincula Reis, da FSP-USP, a escola ainda não está preparada para lidar com o deficiente mental. “A psicopatologia é contraditória com os próprios valores da escola. Afinal, como uma instituição que pretende desenvolver competências pode aceitar a incapacidade de aprender?” Na falta de uma resposta, o que se faz hoje é incluir a criança nas atividades coletivas e tentar socializá-la, sem realmente inseri-la no ambiente educacional.
O problema, na opinião do professor, está na falta de um modelo a ser seguido. Ele afirma que, apesar de as escolas serem obrigadas a receber ao menos cinco crianças deficientes, não há programas especialmente desenvolvidos para elas. “A inclusão e a adaptação fica por conta de cada escola.”
Terreno desconhecido
Não são apenas as crianças e os jovens que sofrem com a dificuldade de inclusão. A deficiência mental, em todas as suas formas, ainda é relegada ao silêncio e à margem da ciência. Como admite o professor Alberto Reis, “a saúde mental é a filha rejeitada da saúde.”.
Os motivos, além das dificuldades da própria medicina, remetem a valores culturais e psicossociais. Numa sociedade guiada pela lógica racionalista, a presença do louco causa, mais do que estranhamento, medo. Ao contrário do doente, que se encontra temporária ou permanentemente incapacitado, o louco é uma figura fora da ordem, imprevisível e, acima de tudo, incompreensível. Nas palavras do professor, “A loucura está presente em todos e em todos os lugares. Por isso, por medo de nossa própria irracionalidade, tendemos a excluir e condenar a loucura do outro.”