São Paulo (AUN - USP) -Dentre as medidas tomadas pelos Bancos Centrais das maiores economias do planeta até agora para minimizar os efeitos da crise nos mercados financeiros, a redução da taxa básica de juros é a menos eficaz. É o que diz Carlos Eduardo Gonçalves, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. Segundo ele, tal medida “não age direto dentro da crise”.
Um dos principais problemas da atual turbulência financeira é que linhas de crédito que costumam continuar viáveis mesmo em períodos de crise desapareceram. A severidade do arrocho de crédito é tamanha que os bancos pararam de emprestar dinheiro entre si e os recursos para o exportador, com garantias seguras de pagamento, foram cortados.
“Os mercados foram apossados por uma crise de confiança e, portanto, política monetária sozinha não funciona numa situação como essa. Pode ser que os cortes nas taxas de juros tenham efeito, mas será modesto. O problema está dentro dos bancos. Enquanto isso não for saneado, o crédito não vai ser restaurado”, explica Gonçalves.
Segundo ele, o pacote ideal para a crise deve buscar minimizar os incentivos adversos que podem surgir do chamado “perigo moral” [moral hazard] que apossou os mercados. De acordo com o especialista da FEA, uma maneira de fazer isso é converter os passivos dos bancos em ações, medida que já está sendo adotada em vários países.
“Com isso, o governo capitaliza os bancos, ou seja, injeta dinheiro do contribuinte para salvá-los. É dinheiro do povo que está indo parar numa aposta das ações dos bancos, um custo muito caro. O ponto é que se essas ações subirem, após a execução de um plano em grandes proporções, o contribuinte se beneficiará. Mas é uma aposta arriscada. De todo jeito, não tem como os governos não colocarem dinheiro público. É um custo muito severo da crise”, destaca o professor.
Para ele, após essa turbulência o mundo deverá discutir o aumento da regulamentação do sistema financeiro. “Eu prefiro um mundo com mais repressão financeira, com menos capacidade de diversificar risco, mas sem crises como a que estamos vivenciando. Por enquanto, a solução é transformar as dívidas dos bancos em ações. Se sairmos da crise, essas ações subirão e o prejuízo para o contribuinte será minimizado”, completa.