São Paulo (AUN - USP) -Todos os dias, o Parque de Ciência e Tecnologia (CienTec) da Universidade de São Paulo recebe uma quantidade significativa dos mais variados tipos de lixo – restos de comida, papel higiênico usado, recicláveis e até eletrodomésticos quebrados. Esse material é descartado pelas pessoas de uma comunidade vizinha ao CienTec, que faz parte do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, Zona Sul de São Paulo, na divisa com Diadema. Tendo em vista o risco que todo esse lixo representa ao meio ambiente e à própria comunidade, o próprio CienTec, junto com o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, começou a desenvolver estudos geofísicos e um programa de educação ambiental para a comunidade vizinha.
Uma das áreas da Geofísica encarrega-se de estudar a contaminação do solo, bem como buscar alternativas que “minimizem a disposição de resíduos no ambiente ou os impactos que estes provocam”, segundo consta em relatório desenvolvido por Mariana Nicácio, aluna do IAG. No caso do CienTec, os métodos geofísicos empregados constataram uma condutividade elevada no solo, especialmente próximo ao muro que separa o parque da comunidade vizinha. De acordo com o professor do IAG, Vagner Elis, orientador dos estudos no CienTec, a condutividade é maior em regiões mais contaminadas por conta da presença de sais oriundos do chorume – líquido resultante do lixo.
Além do material indevidamente descartado, também se verificou que a contaminação é agravada pelos encanamentos das casas, que desembocam no parque, e pelo acúmulo de água em condições propícias ao desenvolvimento dos vetores da dengue. Para o professor Vagner, essa conduta errada da população vizinha pode ser explicada pelo fato de que muitas pessoas não sabem que o CienTec lhes pode ser útil. "A vinculação do CienTec à USP cria nas pessoas um certo afastamento, como se, por ser da USP, o parque não pudesse ser freqüentado por elas", explica Vagner. No entanto, o objetivo do CienTec é justamente a divulgação da ciência e da tecnologia junto à população, de forma descontraída, divertida e interessante. Tudo para desfazer o imaginário popular de que conceitos científicos são incompreensíveis para os leigos.
Educação ambiental
A fim de exercer o papel de extensão que cabe às universidades e promover a conscientização popular, a aluna Mariana Nicácio desenvolveu um programa de educação ambiental, como parte de sua iniciação científica – que, antes, consistia apenas em fazer as medições do nível de contaminação no CienTec.
A idéia era alertar a população sobre os riscos do descarte indevido do lixo e ensinar procedimentos corretos. Segundo o professor Vagner, a conscientização é necessária, pois os maiores prejudicados nessa história são necessariamente os próprios moradores vizinhos, que poluem o parque. "O lençol freático é contaminado com todo esse lixo e, por conta do relevo subterrâneo da área, as águas correm no sentido do parque para a comunidade", explica o professor do IAG.
Mariana, então, baseou-se na coleta dos dados de sua iniciação e preparou uma série de palestras sobre educação ambiental. A abordagem, bastante didática e simples, iria desde a importância das águas subterrâneas, o perigo da contaminação e a necessidade de protegê-las até a aplicação ambiental da Geofísica. Trata-se de uma maneira de divulgar a Ciência àqueles que têm acesso bastante restrito a ela, apesar de morarem ao lado de um parque científico.
Mesmo com a boa-vontade da aluna, o projeto de extensão não teve o sucesso esperado, unicamente por conta do desinteresse da própria população. Mariana entrou em contato com uma escola e um centro espírita da região, apresentando a proposta das palestras. Nunca passou disso. Seja por falta de infra-estrutura, de organização, de divulgação ou de interesse mesmo, as palestras ficaram só no papel.
Decepcionada com a falta de interesse pelo projeto, Mariana acredita que o CienTec deveria ter um papel de maior influência para a região vizinha, bastante populosa e violenta. “Seria ótimo trazer uma nova perspectiva de trabalho para aquelas pessoas, através da divulgação da Geofísica, e também conscientizá-las a respeito da relação que têm com a natureza, especialmente com as nascentes do Ipiranga”, expõe a discente do IAG”.