São Paulo (AUN - USP) -“Nasci de novo!”. Não é raro encontrar esta expressão nos discursos de pessoas que acabaram de enfrentar experiências extremas, isto é, situações em que suas vidas foram colocadas em risco. Junto da frase, acompanham promessas de mudanças e novas perspectivas sobre a maneira de viver. Por algum tempo, de fato, tudo é implementado e o cotidiano, realmente, se transforma. Contudo, além de serem, eventualmente, esquecidos pelos indivíduos, esses momentos, muitas vezes, passam despercebidos por psicólogos e analistas, o que significa uma falha em um possível tratamento psicoterápico.
Segundo Ivonise Fernandes da Motta, professora do Instituto de Psicologia da USP, as experiências extremas rompem com o estilo de vida que os indivíduos estavam acostumados e deveriam ser utilizados por profissionais da área para condicionar uma melhora no dia-a-dia das pessoas. “É importante considerar e utilizar os aspectos favoráveis do ambiente para que mudanças efetivas possam ocorrer. Não se pode focar exclusivamente em testes ou análises do inconsciente”, afirmou.
Baseada em experiências clínicas, Ivonise da Motta explica que, mesmo em situações particularmente pessimistas como tentativas de suicídio ou abuso de narcóticos, é possível criar condições para que os problemas não se repitam. A mobilização da família e de pessoas próximas ou a própria busca por ajuda são elementos que em si já representam rupturas e indicam uma existência mais saudável. É justamente essa visão ampla do contexto que permite a cura.
Ela avisa, no entanto, que a observação do histórico de vida da pessoa não é suficiente para um tratamento. É preciso o envolvimento com técnicas prestigiadas de abordagem, conceitos teóricos e inovações tecnológicas. O importante é não se limitar por nenhuma vertente da psicologia, isto é, a ênfase de um tratamento deve residir na atenção sobre todo e qualquer indício de problema. Isso significa que cada caso deve ser entendido em sua própria particularidade, analisando o que determinado individuo precisa ou não.
Por fim, a professora da USP explicou que a concepção de tratamento psicoterápico, sem limitantes e com observação profunda do paciente, diz respeito às origens da própria idéia de Psicologia. “Sigmund Freud já apontava a importância do conjunto de análises e técnicas para ajudar as pessoas. A função do nosso trabalho é possibilitar uma inversão, no qual o paciente desenvolve um funcionamento psíquico diferente. E para isso, não se pode ficar limitado”, disse.