São Paulo (AUN - USP) -Já é possível medir o quanto e como um casal é apegado entre si. E ainda saber o que predomina na relação: paixão, ciúme, amizade, jogo, dedicação ou cálculo. Porém não se recomenda a técnica para casais em crise que querem achar culpados. Os questionários, desenvolvidos por pesquisadores norte-americanos e europeus, são mais úteis para revelar como uma população específica convive com o amor.
Determinada a investigar as diferenças culturais e sexuais entre os casais de noivos brasileiros e italianos, a psicóloga Débora Regina Barbosa conjugou quatro modelos distintos de questionários (“Estilo de Apego Romântico, LAS - Love Attitude Scale, Escala de Satisfação e Crença no Amor Romântico”) e os aplicou a 562 indivíduos – 234 residentes na cidade de São Paulo e 328 em Roma. As entrevistas foram feitas em cartórios, no momento em que os noivos formalizavam sua união.
O resultado foi apresentado por Débora no último mês, durante sua defesa de Doutorado no Instituto de Psicologia da USP, e derruba alguns sensos comuns. Por exemplo, a idéia de que as mulheres se dedicam mais à relação. Segundo a escala aplicada na pesquisa, o estilo “Ágape” de amor, dedicado, altruísta e sem egoísmo, é significativamente maior entre os homens do que entre as mulheres dos dois países.
Também não se confirma um eventual maior pragmatismo por parte dos homens, ao menos na amostra coletada. O estilo “Pragma”, racional, prático e baseado em uma lista de características desejadas no outro, é mais forte nas mulheres do que nos homens, sejam italianas ou brasileiras.
É verdade, porém, que os italianos são mais românticos. O estilo “Eros”, intenso, sensual e apaixonado, é mais presente entre homens e mulheres do país de Marcello Mastroianni e Sophia Loren. Também se confirma o argumento, sempre presente nas conversas de mesa de bar, de que as mulheres acreditam mais no amor romântico do que os homens: brasileiras e italianas alcançaram uma pontuação mais alta nesse quesito.
Quando o assunto é amor sem comprometimento, baseado no jogo, aventura e diversidade de parceiros, os brasileiros se destacam. O estilo “Ludus” é mais forte nos homens e mulheres brasileiros, com maior força entre os rapazes. O estilo “Estorge”, que privilegia a amizade, o companheirismo e a estabilidade, também é mais presente entre os brasileiros, com uma ligeira ênfase entre as moças dos dois países. No estilo “Mania”, possessivo, ciumento e dependente, não foram detectadas diferenças por sexo ou nacionalidade.
Formas de apego
Débora apontou que em ambos os países a iniciativa para o primeiro encontro partiu predominantemente dos homens (75% no Brasil e 69% na Itália) e corresponde a um comportamento mais “contido” das mulheres. Segundo ela, tal comportamento acaba por reproduzir papéis sociais ao longo dos relacionamentos, sobretudo nos mais longos e estáveis.
Ela destacou ainda que, no quesito “Estilo de Apego Romântico”, os tipos “Preocupado” (alta ansiedade e baixo distanciamento) e “Medroso” (alta ansiedade e alto distanciamento) apareceram com maior freqüência no Brasil do que na Itália, tanto para homens quanto para mulheres. Para Débora esse resultado, ao lado da alta pontuação no estilo “Ludos” para os homens, pode ser reflexo de um maior acesso ao sexo casual entre os brasileiros.
O estilo de apego “Rejeitador” (baixa ansiedade e alto distanciamento) apresentou resultados semelhantes nos dois países, com maior freqüência entre os homens.
O estilo “Seguro” (baixa ansiedade e baixo distanciamento), que revela uma maior tranqüilidade em relação a sua própria intimidade e ao parceiro, apareceu com igual força entre homens e mulheres dos dois países. Débora aponta que as médias elevadas obtidas vão de encontro a outros estudos que apontam o estilo “Seguro” como o mais freqüente em diferentes culturas.
O índice de satisfação no relacionamento medido foi alto para homens e mulheres dos dois países, próximo ao máximo."Era o de esperar, afinal todos os entrevistados estavam prestes a se casar”, disse Débora.
Esquadrinhar o amor soa bastante anti-romântico, mas o conhecimento pode ser útil para evitar outras estatísticas. Segundo dados de 2005 do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, cerca de um quarto dos casamentos desfeitos (27,5%) duraram menos de cinco anos.