São Paulo (AUN - USP) -A preferência do Governo pelo imediatismo e pelos menores preços na construção de obras públicas faz com que a qualidade e a exuberância delas sejam deixadas de lado. Essa é a opinião do conceituado arquiteto Ruy Ohtake, que ministrou palestra recentemente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, onde se formou no ano de 1960. Para Ohtake, é necessário um grande esforço dos arquitetos para que as obras públicas sejam bem realizadas, pois a arte da arquitetura está sendo ignorada, sendo vista como dispensável.
Segundo o arquiteto, esse pensamento pragmático é herança dos tempos de ditadura militar (1964 – 1985), quando a ebulição cultural dos anos 50 e 60 foi cortada pela censura. A exuberância de Brasília, patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO e a Meca dos arquitetos para Ohtake, passou a ser vista com maus olhos, classificada como “ineficiente” pelos militares. Estes fundaram grandes empresas de engenharia que se especializaram em projetos grandes e “eficientes”, como aeroportos, longe da “polêmica” da arquitetura.
Ohtake lembra que a produção cultural brasileira voltou a se destacar a partir do final dos anos 80, com a redemocratização. Porém, no campo da arquitetura, o pensamento das obras públicas “eficientes” estava consolidado após mais de 20 anos de ditadura. Por isso, o arquiteto ressalta que os arquitetos devem esforçar-se para mudar essa situação e resgatar o pensamento de que as obras públicas podem ser, ao mesmo tempo, funcionais e esteticamente agradáveis.
Alguns dos projetos de Ruy Ohtake são exemplos disso. O Expresso Tiradentes, corredor de ônibus elevado na zona leste da cidade de São Paulo, busca aliar praticidade e rapidez no transporte público com estações modernas e coloridas e um trajeto sinuoso, numa linha “leve e poética”, de acordo com o arquiteto. Além disso, Ohtake ressalta a importância de se pensar as obras públicas junto com projetos urbanísticos: “O Expresso Tiradentes resolveria boa parte do problema de transporte na sua região, e isso possibilitaria à prefeitura colocar em prática um projeto de restauração e aproveitamento dos espaços ali”, explica.
Ruy Ohtake é apontado por vários especialistas em arquitetura como o sucessor de Oscar Niemeyer, de quem é muito amigo. Suas marcas registradas são as linhas leves e onduladas, inspiradas nas esculturas de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e as cores “tropicais” vindas das obras do paraibano Ariano Suassuna. Filho da também famosa arquiteta Tomie Ohtake, é conhecido por sua ousadia e pela inovação, marcantes em obras como os hotéis Unique e Renaissance, ambos em São Paulo. O primeiro é conhecido por sua forma de meia lua (inclusive é considerado por revistas de arquitetura internacional como uma das obras contemporâneas mais importantes do mundo). Já o segundo resgata a cor e as formas arredondadas na região próxima à Avenida Paulista, marcada pelo cinza e pelas linhas retas. Apesar dos 70 anos de idade, Ruy Ohtake ainda trabalha com projetos de arquitetura, urbanismo e design.