ISSN 2359-5191

28/10/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 114 - Educação - Instituto de Psicologia
Auto-retrato psicológico de Vincent Van Gogh é desenvolvido por pesquisadora da USP

São Paulo (AUN - USP) -Conhecido como “artista maldito”, Vincent Van Gogh (1853-1890) tem sua imagem atrelada a uma série de estereótipos e lendas referentes à doença que amargou em vida e a genialidade de suas obras. Auto-mutilação, internações psiquiátricas, suicídio e a pintura de seus “Girassóis” fizeram de Van Gogh um ícone da relação entre arte e loucura. Essas, no entanto, são apenas concepções atribuídas a ele. Idéias que criaram um personagem e não retratam a pessoa de fato. Para escapar disso, é preciso questionar se o pintor se reconhecia louco, procurava cura ou mesmo se considerava um grande artista. Em outras palavras, qual era o universo criado por Vincent Van Gogh em sua própria mente?

Com o objetivo de responder a essas perguntas e entender o estado psicológico do pintor, a psicóloga e pesquisadora do Instituto de Psicologia da USP Luciana Bertini Godoy delineou, de forma objetiva, a auto-imagem do artista. O trabalho foi desenvolvido por meio da análise das últimas 262 cartas pessoais escritas entre 1886 a 1890 por ele para amigos próximos, parentes e outros pensadores da época. “Todo o trabalho se baseou no sentido de ouvir o artista falar. Produzir uma teoria isenta de opinião externa. Entender o contexto sem o pressuposto de usar as cartas para ilustrar uma idéia”, explicou a pesquisadora.

Através das correspondências, nas quais o cotidiano do pintor e reflexões sobre a doença são retratados, Luciana Godoy apresenta um Van Gogh lúcido e crítico sobre sua condição. Nas cartas iniciais, o artista reconhece a loucura como doença, mas atribui suas causas ao estilo de vida que levara até então. Ele pensava que o excesso de bebidas alcoólicas, as noites pouco dormidas, a má alimentação e o abuso de drogas, isto é, elementos típicos do cotidiano dedicado exclusivamente à arte, haviam desgastado seu corpo a tal ponto que sua mente não funcionava como deveria. Nas palavras da pesquisadora Luciana, “Van Gogh se considerava louco na medida em que era artista. Acreditava que a doença era o resultado inexorável da vida que escolhera”.

Em seguida, entretanto, o pintor percebe que sua saúde física melhora e as crises mentais persistem, o que resulta em uma nova visão sobre a loucura. Nesse momento, aceita a loucura e a considera como o refúgio de sua arte. Entende que dificilmente superaria aquela condição, mas vê no isolamento social uma possibilidade de desenvolvimento de sua pintura. Era um estado no qual a sociedade o excluía e Van Gogh se aproveitou da situação para produzir sem perturbações externas. Descrente em uma possível cura, ignora a perspectiva pessimista da doença e continua pintando, o que sempre fora o foco de sua vida. Essa posição perdurou até o suicídio em 1890. “É interessante observar que toda a vida de Vincent Van Gogh foi direcionada a arte, apesar dos diagnósticos da loucura”, finalizou Luciana Gogoy.

A psicóloga iniciou o trabalho com a correspondência de Van Gogh há cerca de 15 anos e entende que o desenvolvimento do tema está longe de ser acabado. Luciana começou a tratar da relação do pintor com arte e loucura em meados dos anos 1990. Viajou pela Europa para aprofundar o assunto e, posteriormente, produziu um Mestrado e Doutorado. Hoje, continua suas pesquisas no Laboratório de Estudos em Psicologia das Artes no Instituto de Psicologia da USP.

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br