São Paulo (AUN - USP) - O processo criativo do pintor abstracionista Samson Flexor foi elucidado recentemente pela exposição A Dobra do Desenho, ocorrida no Museu de Arte Contemporânea da USP do campus Butantã. Por meio da exposição de rascunhos e estudos do pintor, justapostos a obras consagradas do artista, a exposição logra aproximar o espectador da intimidade criativa de Flexor, mostrando estágios de sua obra que, normalmente, ficam distantes do público.
A exposição foi dividida em quatro “dobras”, cada uma representando diferentes aspectos da obra do artista. Na dobra “Organismo”, o destaque é dado à fase da obra de Flexor que o próprio artista denominou como “Antropomorfismo”, a penúltima de sua carreira. Carrasco, óleo sobre tela de 1968, segundo a professora Alice Brill, autora do livro Samson Flexor, do figurativismo ao abstracionismo, é uma obra que sintetiza a busca do pintor pela expressão de formas humanas, porém desumanizadas, e foi exibida juntamente a estudos dessa fase, que chegam a aproximar-se da figuração, embora não percam o caráter essencialmente abstrato.
A segunda dobra da exposição, “Expressão”, traz estudos da fase em que Flexor dedicou-se ao abstracionismo lírico, em que abusava de tons escuros e que possuía temática sombria, de acordo com Brill. Em A Dobra do Desenho, a obra completa que ilustra essa fase é Pintura, de 1960. Enquanto praticava o abstracionismo lírico, o artista dedicava-se com maior esmero às cores, que, para ele, seriam “mais do sentido”, em oposição às linhas, “mais do espírito”.
Em oposição a esse abstracionismo lírico, a exposição prossegue com a dobra “Diagrama”, que retrata a fase geométrica de Flexor. Os estudos exaustivos de proporções, ilustrados por equações matemáticas que refletem a ambição de Flexor pela proporção áurea, como é demonstrado no livro de Brill, mostram como funcionava o processo criativo por trás de obras como Va et Vient, óleo sobre tela de 1954 que integra a exposição. Dessa fase também são diversos estudos de vitrais exibidos na mostra, que representam uma fração da obra sacra abstrata do pintor.
Por fim, a exposição remete ao começo da vida do artista, com a dobra “Espaço”. Nesta dobra, diversos rascunhos e estudos do pintor de sua fase européia, onde conviveu com Matisse, Bissière (que foi seu professor), Bérard e Berman (os três últimos representantes da chamada pintura tradicional francesa, ramo do abstracionismo derivado do cubismo), contrastam com a obra síntese Modulação, óleo sobre tela de 1954, também pertencente à sua fase geométrica.
Sobre o artista
Samson Flexor, nascido em 1907 na Bessarábia, então província do Império Russo e hoje Moldávia, começou a pintar desde a adolescência, quando exibia forte influência do expressionismo, do simbolismo e do art nouveau. Freqüentou a École Nationale des Beaux Arts e o curso de história da arte da Universidade de Sorbonne. Veio ao Brasil após o término da Segunda Guerra, em razão da grave depressão pela qual a França, sua pátria adotada, passava, e aqui ficou até a sua morte, em 1971.