São Paulo (AUN - USP) -A poluição do ar pode agravar casos de infertilidade que atinge parte das mulheres que vivem em São Paulo. Também tem raiz no problema a diabetes, hipertensão, doenças vasculares e respiratórias. Essas foram algumas conclusões de uma pesquisa feita pela professora Marisa Dolhnikoff, do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), e apresentada recentemente nos Seminários de Poluição Ambiental e Saúde Pública. O trabalho de Marisa a respeito de saúde fetal e gestacional, pôde estabelecer muitas ligações entre condições ambientais entre o início da vida do feto, o período neo-natal, e a qualidade da vida adulta.
Todos os resultados foram obtidos a partir da criação de mamíferos em duas câmaras instaladas no jardim da Faculdade. Uma delas com o ar ambiente do cruzamento da Teodoro Sampaio e a Doutor Arnaldo, e a outra no mesmo local, mas com ar filtrado - redução de 70% de material particulado. As gerações cresciam e acasalavam dentro das câmaras e foi possível analisar parâmetros reprodutivos. Por exemplo, quanto tempo demoram para acasalar, índice de fertilidade (quantas fêmeas engravidam após o acasalamento), e quantas gestações terminam de uma forma saudável. Para isso, analisou-se as características hormonais das fêmeas por meio de alteração do tecido ovariano.
Além das características hormonais das fêmeas, muito se estabeleceu a partir da observação da prole: "no nascimento podemos observar diferentes parâmetros da prole. Por exemplo, quantos animais morrem, peso, relação entre machos e fêmeas, placenta e cordão umbilical. E o que os resultados mostram, é que entre os animais expostos à poluição atmosférica na cidade de São Paulo, as fêmeas apresentam menos ciclos hormonais e número de folículos ovarianos, diminuindo a possibilidade de gravidez. Os casais expostos demoram mais tempo para acasalar, além de produzirem menor número de gestação. E desse percentual, muitas terminam com perda gestacional", expôs a professora.
Além dos abortos, a relação macho/fêmea sofre um desequilíbrio, com o nascimento de mais fêmeas. E uma das constatações mais consistentes que obtiveram dos estudos epidemiológicos entre os nascidos, era o baixo peso ao nascer. Essa característica está diretamente relacionada ao desenvolvimento de doenças crônicas na fase adulta, como diabetes, hipertensão e doenças vasculares. Marisa chamou isso de origem fetal de doenças adultas: "Durante a vida fetal, aumenta-se ou não o risco de desenvolver certas doenças na fase adulta. E o que estamos vendo é que a poluição é determinante para o aumento do risco de baixo peso ao nascer, acaba sendo um fator determinante para o aparecimento dessas doenças".
A função placentária é um dos fatores que determina a alteração do baixo peso em qualquer mamífero. Pelo estudo das placentas desses animais, observou-se a redução dos espaços sanguíneos, que são os espaços de troca tanto de oxigênio quanto de nutrientes da mãe para o feto. Essa redução nos animais expostos à poluição, determina insuficiência placentária. Houve também redução da espessura dos cordões umbilicais e dos vasos sanguíneos. Também a função pulmonar das proles foi comprometida: as crianças, quando expostas à poluição, podem apresentar a diminuição da função pulmonar, além da maior chance de desenvolver doenças respiratórias. O desenvolvimento do sistema respiratório acontece durante a vida gestacional, porém, parte da criação de alvéolos termina após dois ou três anos do nascimento, sendo esse período crítico a alterações ambientais. E como a fase gestacional também afeta a capacidade respiratória dos nascidos, é possível traçar um paralelo entre a fumaça do cigarro e a poluição em geral, a mãe deve evitar os dois.