São Paulo (AUN - USP) - É necessário conhecer a configuração das ligações dos átomos para conhecer cada substância e assim, desenvolver novos materiais. Mas como é possível conhecer algo tão pequeno, que o olho humano não pode ver diretamente? Justamente por não podemos ver as configurações atômicas a olho nu, é necessário desenvolver métodos que permitam “olhar” esse universo microscópico. Nesse caso, as simulações computacionais permitem compreender como os átomos se ligam. Compreender essas ligações é muito importante para uma nova área da ciência, a nanotecnologia. Um dos seus objetivos é manipular átomos em escalas muito reduzidas, no caso, as escalas nanométricas ou atômicas , de 10-9 metros.
Segundo o pesquisador João Francisco Justo Filho, pesquisador do Laboratório de Microeletrônica (LME) do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos (PSI), da Escola Politécnica da USP, a nanotecnologia tem caráter multidisciplinar, já que é possível a sua aplicação em outras áreas do conhecimento, pois todas as substâncias são formadas por moléculas. Por exemplo, a nanotecnologia pode envolver a biologia, manipulando as moléculas que compõem determinado medicamento. Por causa da multidisciplinaridade, é necessário hoje um biólogo saber mais física do que há trinta anos atrás, ou possível que engenheiros comecem a manipular DNA na tentativa de fabricar um transístor.
Ainda segundo o pesquisador, o marco inicial da nanoletrônica foi em 1985, com a descoberta das bolas de carbono. Estas são compostas por 60 átomos dispostos de tal maneira que seu formato parece com uma bola de futebol. Este formato é o mais estável, pois a natureza tende a se configurar nos estados que requerem menos energia.
Mas é necessário que as descobertas da nanotecnologia sejam mais do que conhecidas e entendidas, elas precisam ser reproduzíveis. Só por meio da reprodução em laboratório é que as descobertas têm utilidade à ciência dos materiais, especializada em desenvolver materiais adequados às mais diversas necessidades. Por exemplo, o material que compõe a turbina de um avião precisa ser resistente a variações de temperatura, pois em elevadas altitudes, a temperatura é baixa enquanto o dispositivo se torna mais quente. Se o material não for resistente, ele trinca, como um copo quente que entra em contato com a pia gelada. Por fim, é necessário que a reprodução dos materiais seja economicamente viável para que possa chegar ao consumidor, ou seja, o material da turbina não pode encarecer o custo total do avião.