Piracicaba (AUN - USP) - Atualmente, a maioria das aves destinadas ao consumo é criada em condições de total confinamento – sistema intensivo –, praticadas pelos grandes produtores. Como opção para o pequeno empreendedor há a sugestão de um sistema semi-intensivo, em que os frangos possuem um ambiente fechado e outro aberto. E, para que essa opção seja viável, há aproximadamente cinco anos, os pesquisadores Antonio Augusto D. Coelho e Vicente José M. Savino, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq – USP) desenvolvem, junto ao Departamento de Genética, aves adaptadas a esse tipo de produção.
Trata-se do projeto “Frango Feliz”, que já resultou, por exemplo, nas linhagens “caipirão”, 7P e “caipirinha”, as duas primeiras destinadas ao abate e a última com uma aptidão mista: as fêmeas são ideais para a postura – produzem cerca de 240 anualmente, contra 80 da galinha caipira e 360 da confinada – e os machos, para o abate. Esses tipos genéticos são obtidos por seleção de genes favoráveis a certas características que melhoram o desempenho na produção, daí a utilidade dos pequenos produtores.
Isso porque o sistema intensivo, segundo o professor, “é um segmento que exige que o criador tenha um mínimo de investimento para criar lotes de 10, 30 mil frangos, demanda instalação, mão-de-obra e poder aquisitivo para realizar o transporte”, fatores que determinam uma concentração cada vez maior do setor nas mãos das grandes avícolas.
Não basta, portanto, que o produtor tenha o mesmo frango do sistema intensivo em seu sítio para obter boa produtividade: é necessário material adaptado, pois a linhagem habituada ao confinamento é menos resistente e, mesmo tendo oportunidade de livre acesso ao pasto, fica dentro do galpão.
Devido à fragilidade às doenças, tais aves são constantemente tratadas com antibióticos, o que pode prejudicar o homem, que passa a receber medicamento sem controle e a ser atingido por bactérias cada vez mais resistentes.
Ao contrário do que se difunde, entretanto, “a aplicação de hormônios não é uma prática utilizada comercialmente na produção de frango”, afirma Coelho, visto que a substância não agiria até o abate (de 42 a 44 dias).
Já as aves selecionadas pelo projeto são mais rústicas: mais resistentes a um meio em que não se tem todo o controle de sanidade. Porém, seu abate é por volta de 85 dias para os machos “caipirinha” e 65 dias para o “caipirão”, mais tarde, portanto, que o das criadas intensivamente. Entretanto, o trunfo dessas linhagens, segundo o pesquisador, são as diferenças qualitativas no ovo e na carne, esta mais firme, com sabor, cor e textura específicos, destinada a um mercado limitado: pessoas interessadas em consumir produtos mais naturais.
A diferenciação é importante porque permite ao pequeno avicultor permanecer no mercado mesmo com a grande concorrência. “Um projeto como esse não tem tanto interesse científico, mas tem uma aplicação imediata” e, apesar dessa importância, há dificuldade para conseguir financiamento de órgãos públicos, cujas verbas, atualmente, estão voltadas para áreas da genética molecular e biotecnologia. Para a manutenção desse projeto, os professores contam, portanto, apenas com o apoio da iniciativa privada em doações para cobrir o custo de manutenção dos animais.