São Paulo (AUN - USP) - Todos os dias, a população das grandes cidades enfrenta congestionamentos quilométricos pelas vias públicas. Isso além de causar impacto no bem-estar das pessoas, ainda influencia na economia e na produtividade da cidade. Segundo o professor do departamento de Engenharia dos Transportes da Poli USP, Orlando Strambi, “a mobilidade urbana pode ser melhorada ao se adequar à realidade de cada cidade modelos de transporte usados em outras partes do mundo”.
O laboratório de Poluição da USP revelou que “os veículos, que circulam pela cidade de São Paulo, são responsáveis por 95% das emissões de gases poluentes como o monóxido de carbono, os óxidos de nitrogênio e os hidrocarbonetos”. Isso estabelece uma complexa relação entre a saúde dos cidadãos, o meio ambiente e a mobilidade urbana. Para tentar reverter esse quadro que atinge toda a população de forma direta, as autoridades necessitam criar alternativas para o transporte, caso isso não ocorra “as cidades perderão seu principal atrativo que é a demanda por proximidade e acessibilidade”, diz Ciro Biderman, pós-doutor pelo MIT em Economia Regional.
Nos últimos anos, segundo a Prefeitura de São Paulo, o número de pessoas que usam o transporte público tem crescido. Hoje, cerca de 55% dos habitantes da metrópole latino-americana se locomovem por meio dos ônibus, metrô e trens. Para Biderman, “esse é um volume extraordinário, ao se considerar a baixa qualidade do transporte público, a baixa taxação da gasolina e os baixos custos de estacionamento no Brasil”. Ainda segundo o especialista, esse índice só foi melhorado a partir de 2002, quando os transportes coletivos paulistanos tiveram uma pequena melhoria, com a criação do Bilhete Único.
Ainda assim, para melhorar a qualidade dos transportes coletivos e incentivar o uso deles pela população, é preciso que se ampliem os investimentos na área. Tanto para Biderman, quanto para o professor Strambi, a solução mais adequada à cidade de São Paulo é a disseminação dos corredores de ônibus, inspirados nos modelos implantados em Curitiba (PR) e Bogotá na Colômbia. Para eles, “enquanto todos falam em construir novas linhas de metrô, se esquecem que elas possuem um custo muito elevado”, já as faixas de ônibus são muito mais baratas e eficientes do mesmo modo. O mito criado ao redor da construção do metrô se dá ao alto poder de transformação urbana por onde ele passa e também, por ele não disputar espaços na superfície, onde os ônibus competem com carros, motos, pedestres e ciclistas.
Para o desenvolvimento urbano ordenado é extremamente necessário que se tenha um trânsito que funcione e isso só será possível com o uso racional dos transportes públicos, mas “só alcançaremos altas taxas de uso de transportes coletivos quando políticas públicas adequadas forem implantadas nas cidades”, diz Orlando Strambi. Segundo o professor da Poli, “essas políticas se concentram em restringir o uso do automóvel ao criar rodízios mais rígidos, dificultar a compra de carros e aumentar os preços de estacionamentos; em melhorar o transporte público com a criação de corredores de ônibus, linhas de metrô e trem; e em estimular o deslocamento das pessoas por meios não motorizados, caminhando ou andando de bicicleta.
“Agir sobre um problema visível, como o trânsito de hoje na cidade de São Paulo, é por definição muito tarde. É preciso criar alternativas urgentes para os caóticos congestionamentos. Há a necessidade de se pensar a longo prazo, com continuidade” antes que a cidade pare por completo, conclui o docente da Escola Politécnica.