São Paulo (AUN - USP) -Os índices de gravidez indesejada entre as mulheres brasileiras estão caindo. É o que indicaram as apresentações do II Seminário temático sobre a Saúde da Mulher, na Faculdade de Saúde Pública da USP, recentemente. De acordo com as pesquisadoras Elza Berquó e Sandra Mara Garcia, a mudança reflete uma melhoria no planejamento familiar, que inclui o uso de anticoncepcionais e o acesso à informação.
Entre 1996 e 2006, a porcentagem de mulheres que declararam terem tido gravidez acidental caiu de 23,1% para 18,2%, como mostra a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS). A queda coincide com o aumento do uso de anticoncepcionais, em especial do preservativo masculino, que subiu de 4,6% para 13% no país. Infelizmente, a escolaridade ainda interfere muito nesses números. A pesquisa mostrou que as mulheres que estudaram oito anos ou mais tiveram adesão muito maior aos métodos contraceptivos, em comparação às que não estudaram.
Apesar de desigual, a fecundidade caiu tanto nas classes mais baixas quanto nas altas, revelando uma verdadeira mudança de comportamento. A vantagem disso é que o índice de gravidez real, que antes beirava os 2,5 filhos por mulher, caiu para 1,8 e hoje está mais próximo do índice desejado, que é 1,6. Isso significa que as mulheres estão conseguindo planejar melhor suas vidas conjugais, decidindo o melhor momento para ter filhos.
O curioso é que, com o aumento do controle familiar, as mulheres estão revelando um lado mais independente. De 1996 para 2006, caiu o número de solteiras, porém, aumentou consideravelmente a preferência pela união informal e pelo casamento tardio.
Gravidez planejada
Enquanto o quadro de controle da gravidez já mostra melhorias, a adesão aos exames de pré-natal deu um verdadeiro salto. Se, em 1996, 14% das mulheres declararam não ter feito as consultas necessárias antes do parto, em 2006 esse número caiu para apenas 1%. O problema está nas etapas seguintes: o parto e o pós-parto.
Para desespero dos obstetras, o número de cesárias subiu de 36% para 44% no país e continua firme entre as preferências das mulheres. O número só não é maior porque muitas não podem pagar o parto particular, já que o SUS representa apenas 33% das cirurgias. A cesária é recomendada apenas em alguns casos específicos, mas, normalmente, oferece mais riscos à gestante que o parto normal.
No pós-parto, a situação é ainda mais preocupante: cerca de 60% das mulheres não realizam as consultas puerperais recomendadas pelos médicos, principalmente nas regiões mais pobres. O sistema de saúde pública se depara, assim, com alguns desafios e algumas conquistas, que devem servir de base para as próximas ações. Como mostra a pesquisa, o fator comportamental não pode ser menosprezado, pois tem influência forte nos resultados práticos das campanhas médicas.