ISSN 2359-5191

17/11/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 126 - Economia e Política - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Ciclos econômicos impedem desenvolvimento da Amazônia
Diretor da ONG Amigos da Terra diz que região ainda vive numa fase neocolonial

São Paulo (AUN - USP) -Os sucessivos ciclos econômicos característicos da Amazônia ao longo da história impedem o desenvolvimento sustentável da região. Essa é a opinião de Roberto Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra, apresentada recentemente em palestra organizada pelo Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC) na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. Para Smeraldi, “o Brasil ainda vive numa fase neocolonial em relação à Amazônia” e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal não prevê nenhum investimento para mudar a situação.

O diretor da Amigos da Terra – ONG que desenvolve atividades com comunidades da Amazônia brasileira, trabalhos na área de políticas públicas e ações ligadas à sustentabilidade econômica, social e ambiental da região – diz que é preciso olhar para a história para entender por que os ciclos não beneficiam a população local.

“Nós temos um histórico marcado por uma economia de ciclos na região amazônica. Se pegarmos a época de Marquês de Pombal, veremos que ela foi caracterizada pelo extrativismo primitivo das chamadas drogas do sertão. Depois disso, vieram outros ciclos como, por exemplo, o da borracha. O problema é que uma economia assim tem como fundamento o preço alto de um determinado produto no mercado externo, não no mercado local. Os ganhos auferidos não se encontram naquela região, eles vêm de fora. Com o fim daquele produto ou sua substituição por um outro, as pessoas que dependiam dele acabam sendo prejudicadas”, diz Smeraldi.

Em virtude disso, ele explica que os ciclos econômicos na Amazônia não corresponderam à formação de uma economia regional. Como a duração de um ciclo sempre foi relativa, não houve a possibilidade de se estruturar uma economia por meio do círculo virtuoso de geração de emprego, renda, poupança e investimento, sem o qual não há desenvolvimento.

“Foi o que aconteceu com a borracha quando ela foi implantada na Malásia. Em sete anos, o preço da borracha brasileira despencou e as pessoas que se dirigiram até a região amazônica por causa dela ficaram à deriva. Com o fim da subsistência que as levou até lá, tiveram que arrumar outra forma para sobreviver. O que não teria acontecido se os governos tivessem procurado trazer sustentabilidade para a região, ou seja, estruturá-la para que uma economia local nascesse”, explica o diretor da ONG Amigos da Terra.

Nesse sentido, os ciclos não possibilitam que se desenvolva na Amazônia uma economia em torno de um produto, visto que ele muda constantemente. Segundo Smeraldi, os instrumentos de planejamento para a região como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) não buscam resolver o problema e, portanto, tirá-la do que chama de “fase neocolonial”.

“Não temos no PAC nenhum investimento previsto do ponto de vista de geração de emprego e renda a longo prazo para atender a população regional. Constam apenas investimentos em infra-estrutura, em energia, transporte, dutos para gás e barragens. Olhamos para a região como se fosse um território que não faz parte do Brasil”, destaca.

Para se ter uma idéia, Smeraldi conta que, em 1990, “43% da população brasileira vivia abaixo da linha da pobreza e, na Amazônia, 45% das pessoas estavam nessa mesma situação. Hoje, a média nacional de pessoas vivendo dessa forma teve uma queda expressiva e está em 31%. Já a região amazônica, continua com os mesmos 45%”.

“O que isso significa? Significa que nós exportamos três milhões de pobres para lá, ou seja, as políticas dos ciclos levaram para a Amazônia pessoas que buscavam melhores condições de vida, mas que, infelizmente, continuaram pobres”, comenta. O diretor da Amigos da Terra diz também que, mais recentemente, o ciclo da madeira tem funcionado de acordo com essa mesma dinâmica ao atrair migrantes com falsas promessas.

Para ele, a solução do problema pode estar no que chama de economia florestal, que tem por princípio o investimento maciço de recursos na região para que um modelo alternativo aos ciclos seja desenvolvido.

“A Amazônia precisa de investimentos em tecnologia e pessoal, com a estruturação de cadeias que até agora não foram cogitadas. Investir em Biomemética – a imitação dos processos da natureza – é um bom caminho a ser seguido. Temos uma vantagem comparativa que pode se tornar uma vantagem competitiva. Se há o povoamento científico da Amazôna, há a geração de uma série de indústrias que vão investir na região e gerarão empregos para a população local. A economia florestal vai de valores de uso direto, como produtos florestais diversos (turismo, serviços), a valores de uso indireto, como água e créditos de carbono”, completa Smeraldi.

Com isso, ele acredita que o investimento científico na Amazônia pode gerar emprego e renda. Um tipo de investimento que “visaria, sobretudo, metas econômicas e sociais”.

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