ISSN 2359-5191

18/11/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 127 - Meio Ambiente - Centro de Biologia Marinha
Baleias e golfinhos também vivem em rios

São Paulo (AUN - USP) -Engana-se quem pensa que baleias e golfinhos são animais do mar. Esses cetáceos são erroneamente chamados de mamíferos marinhos pois, na verdade, podem viver tanto em água doce quanto salgada. Segundo a oceanógrafa Shirley Pacheco, do Centro de Biologia Marinha da USP, o nome correto para eles é “mamíferos aquáticos”.

No caso das baleias, o único motivo pelo qual é difícil vê-las nos rios é a limitação de alimentos. Elas se alimentam de fitoplâncton, composto de algas e bactérias microscópicas, e krill, um crustáceo minúsculo semelhante a um camarão. As baleias, em média, comem duas toneladas de krill e fitoplâcton por dia, o que faz com que seja preciso uma quantidade enorme desses seres vivos no habitat para que a baleia possa sobreviver. Embora uma baleia possa nadar em águas doces, em rios não há nenhum desses dois alimentos que são a base de sua nutrição.

Além disso, o ambiente do rio é menor e mais limitado que os oceanos. Com pouco espaço, as baleias ficam com dificuldade de realizar as manobras costumeiras para a locomoção, também aumentando o risco de encalhamento. Por isso, as baleias apenas entram pelos rios de passagem, geralmente quando se perdem de seus bandos. Porém há, uma espécie de baleia conhecida como Baleia Branca Beluga (Delphinapterus leucas), que habita as águas geladas em torno do círculo polar ártico, mais precisamente no Rio São Lourenço, no Canadá. Essa espécie é a única baleia que pode realmente viver em águas doces.

Apesar das dificuldades do ambiente fluvial, casos de baleias que entram em rios são comuns. Em 17 de setembro, há menos de um mês, uma baleia foi encontrada no rio Taquimboque, em Fernandes Belo, distrito do município de Viseu, no Pará. A baleia, cuja espécie não pode ser identificada, foi resgatada por técnicos da Divisão de Fauna e Pesca e do Centro de Pesquisa e Gestão Pesqueira do Litoral Norte (Cepnor) do Ibama, Delegacia de Meio Ambiente da Polícia Civil do Pará (Dema) e Corpo de Bombeiros de Capanema. Foi feito um cerco com barcos ao redor do grande cetáceo na foz do rio, até o começo do oceano, onde a baleia foi se deslocando novamente para o mar.

Outros três casos semelhantes foram identificados no Pará, em 2007. Além deles, uma baleia Minke entrou pelo rio Tapajós, um dos afluentes do Amazonas, em 15 de novembro de 2007. Ao contrário da baleia do Taquimboque, a Minke encalhou em vários bancos de areia e acabou morrendo cinco dias depois, devido a ferimentos não cicatrizados, fome e estresse. Em 2006, uma baleia entrou no rio Tâmisa e foi parar em Londres, a 64 Km do mar, onde morreu dias depois. Segundo Shirley, não é a água doce que provoca essas mortes. As baleias, quando por engano entram nos rios, podem já estar doentes, ou ter sido atingidas por embarcações e se afastam de seu ambiente original. A morte, portanto, difícilmente está associada ao fato do animal estar em água doce.

Quando se trata de golfinhos, é mais fácil de imaginarmos a presença desses animais em águas fluviais. Um exemplo é o famoso Boto Rosa, cujo nome científico é Inia geoffrensis, muito freqüente nas bacias do rio Amazonas e Orinoco. Mas o Boto Rosa não é o único golfinho a habitar as águas fluviais: o Sotalia fluviatilis, um golfinho cinza popularmente conhecido como Tucuxi, habita tanto o mar quanto os rios. Marcos Santos, do Laboratório de Biologia da Conservação dos Cetáceos e palestrante da Semana de Oceanografia da USP, explica a anatomia desse golfinho: o Tucuxi possui rins modificados que permitem a vida em água doce ou salgada, o que não acontece com o Boto Rosa (que só habita águas fluviais) e outros golfinhos apenas marítimos. No mar, o Tucuxi vive na região costeira do Panamá à São Paulo. Nos rios, divide o habitat com o Bota Rosa na Bacia Amazônica. Apesar da dupla possibilidade, Marcos afirma que o Tucuxi ainda prefere a água salgada.

Algumas espécies de golfinhos vivem em regiões onde as águas são uma mistura de mar e de rio, mais conhecidas como salobras. Essas áreas são uma espécie de transição do rio para o mar. É o caso da Ilha Marajó, no Pará, e vários lugares do litoral brasileiro. A oceanógrafa Shirley destaca o golfinho cinza Sotalia guianensis como um dos principais habitantes do Marajó, embora também haja Botos Rosas e Tucuxis na região.

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