Piracicaba (AUN - USP) - Seguindo a tendência mundial de diminuir agressões ao meio ambiente e de tornar mais saudáveis os alimentos consumidos pelo homem, o professor José Djair Vendramim, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq - USP), em sua linha de pesquisa existente desde 1993, trabalha com as chamadas plantas inseticidas. Trata-se de plantas que possuem, em sua constituição natural, substâncias capazes de afetar a sobrevivência das pragas que atacam as culturas.
Os extratos fabricados de seus compostos, apesar de chamados inseticidas (aqueles que matam o inseto), podem, contudo, apenas inibir algumas das funções vitais – tais como reprodução, alimentação, crescimento –, dependendo da concentração utilizada pelo agricultor. Dessa forma, mais que uma medida posterior à proliferação, tais plantas servem ao controle constante das pragas sem que isso signifique um prejuízo ambiental. Isso porque as substâncias naturais apresentam toxicidade muito menor que a dos defensivos sintéticos e são mais rapidamente degradadas pelo meio ambiente, fato que determina, entretanto, a necessidade de um maior número de aplicações para que o produto seja eficiente.
Apesar disso, tal tipo de inseticida possui uma ação mais seletiva que a dos tradicionais, pois o composto é específico para um inseto ou para um pequeno grupo deles, não chegando a atingir nem seus predadores – quando da ingestão, o veneno já pode ter perdido suas propriedades. Disso decorre sua pequena interferência sobre o equilíbrio natural, o que é uma de suas vantagens, destaca o pesquisador do Departamento de Entomologia.
Devido a essas virtudes é que o objetivo da pesquisa, atualmente, é encontrar plantas que possuam esse efeito e que estejam completamente adaptadas ao Brasil, a fim de que exista uma produção em larga escala, visto que o nim, planta mundialmente conhecida para esse propósito, é de origem asiática. Experiências comprovaram efeitos semelhantes em algumas plantas do gênero Trichilia e seus resultados ainda devem ser testados em campo para que a técnica chegue até o agricultor.
Trabalhando com insetos como a lagarta do cartucho do milho, a traça-do-tomateiro e a mosca branca – que ataca cultivos de feijão, abóbora, tomate, soja –, os estudos abrem duas possibilidades para a aplicação da substância: na superfície da plantação ou através dos canais de irrigação. No primeiro caso, seria eficiente contra pragas que ficam sobre as folhas e delas se alimentam, como a lagarta do cartucho do milho; e, no segundo, contra pragas sugadoras, que se alimentam da seiva produzida pela planta.
Ainda sobre os estudos, o professor Vendramim afirma que são muito importantes para que se chegue aos melhores resultados sobre a concentração, as formas de cultivo da planta e a retirada de material com o composto sem que a planta seja prejudicada, contemplando, inclusive, a viabilidade econômica dessas situações, o que é essencial para a adesão dos agricultores.
Para que estes se convençam de que os inseticidas naturais são uma boa alternativa, ressalta o pesquisador, é necessário que vejam um retorno material que, muitas vezes, não é tão evidente – vale uma produtividade mais baixa com um custo mais baixo ainda que uma produtividade alta com custos muito maiores – e que implica mudar o modo de ver a agricultura. Uma mudança essencial, como alerta o professor: “não adianta colocarmos produtos alternativos no mercado se nós não educarmos o agricultor e o convencermos” das vantagens de se usar esse tipo de técnicas.