São Paulo (AUN - USP) -Identificação, seleção e desenvolvimento. São as três fases necessárias para a formação de talentos esportivos. E, em cada uma delas, o Brasil encontra dificuldades para sua execução. É o que diz Alexandre Nunes - professor da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – em uma palestra apresentada recentemente na Escola de Educação Física e Esporte na Universidade de São Paulo (EEFE-USP) e organizada pela Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (ABRAPESP).
Na primeira fase, a identificação, o trabalho é feito com crianças submetidas a avaliações de campo que buscam apontar as habilidades em que elas se destacam. A dificuldade brasileira nessa etapa aparece pelo tamanho da população que passa por ela. Segundo Alexandre, o que se prevê é que todos os habitantes do país que tenham entre 7 e 17 anos passem por ela. E, como o Brasil tem cerca de 34 milhões de menores nessa faixa etária, essa possibilidade se torna inviável, pois nem todos têm acesso às modalidades esportivas. Estudiosos acreditam que apenas 2% desse total se submeta a essa etapa.
A segunda fase é a da seleção, em que os menores já estão direcionados a uma determinada modalidade esportiva. “Nela, já estamos lidando com crianças que jogam em times da escola, ou, em alguns casos, já estão em alguns clubes”, diz Alexandre. Para o professor, o problema nacional encontrado nessa fase aparece pelo fato do Brasil ser um país excludente, ou seja, nem todos têm a chance de se dedicar a uma modalidade: “a não ser que a criança entre em um programa educacional através do esporte, dificilmente ela terá uma oportunidade para chegar nesse estágio”, afirma Alexandre.
Outro problema é que há casos em que se gasta tempo e dinheiro na observação de crianças que já se destacam em alguma modalidade, isto é, que não precisam de estudos prévios para sugestões na modalidade a ser seguida. Apesar dessas dificuldades, o professor assegura que há entre dois e três milhões de crianças federadas no país. Mas esse alto número se dá, na maioria dos casos, por sorte: “esses federados aparecem porque se destacam no desporto escolar e, de alguma forma, são encaminhados para os clubes”, complementa o professor. Para ele, essa etapa é a mais importante, pois a criança já tem orientação de sua modalidade específica e já faz aflorar sua potencialidade.
O último estágio, do desenvolvimento, é o que o Brasil faz o melhor trabalho, segundo Alexandre. Nesse momento, os atletas já estão direcionados para suas modalidades e participam de competições de nível nacional e internacional. Nela, treinadores buscam condições ideais para preparar seus atletas para a prática de alto rendimento. A dificuldade brasileira nessa fase final está na falta de diversidade, ou seja, só há um incentivo nos esportes em que o país tem melhores resultados. Um exemplo é o Centro de Treinamento do voleibol brasileiro, em Saquarema, no Rio de Janeiro, que tem cerca de 108 mil m², quadras, piscinas e salas de musculação.
Alexandre mostra alguns modelos de descoberta de talentos no mundo que deram resultados e podem ser adotados pelo Brasil por não dependerem do tamanho da população, nem do regime político que o país adota. A base deles está no desporto escolar, como o Japão, onde as aulas de Educação Física são diárias nas instituições de ensino. Um outro exemplo é o modelo cubano, que divide as modalidades por grupos (como as lutas) e dão incentivos específicos a cada um.