ISSN 2359-5191

26/11/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 132 - Economia e Política - Escola Politécnica
USP cria alternativa mais barata para amianto

São Paulo (AUN - USP) - O uso do amianto em telhas e materiais de construção em geral pode ter seus dias contados através de um estudo pioneiro desenvolvido na Escola Politécnica da USP (EP-USP). A substituição dessa fibra mineral nociva à saúde humana já é feita, mas com um custo muito elevado – o que inviabiliza o acesso da população de renda mais baixa, principal consumidor dos produtos de fibrocimento. Este dilema pode ter fim com uma pesquisa liderada pelo professor Vanderley John e pelo engenheiro Cleber Dias, que aperfeiçoa a tecnologia já utilizada pelas indústrias. "Há uma tecnologia de produção de telhas sem amianto, mas as fibras [usadas] são importadas, sintéticas, fabricadas no Japão ou China", afirma o engenheiro.

Entre as fibras utilizadas estão as de PVA e polipropileno, que são materiais sintéticos e derivados do petróleo, e a celulose, de origem natural. Esses materiais são responsáveis por um aumento de 40% no preço das telhas em comparação com as telhas convencionais, que utilizam amianto. A proposta da Poli é diminuir a quantidade de fibras em regiões específicas das telhas, sem comprometer a capacidade de carga. "Não vai resultar em queda do desempenho mecânico, mas vai ter uma queda no custo de produção", explica. As telhas com fibras sintéticas produzidas até então eram homogêneas, ou seja, o teor de fibras em toda sua extensão era constante.

Com o modelo de Cleber, haveria pontos com diferentes concentrações de fibras ao longo das telhas, de acordo com a exigência mecânica em cada ponto. As partes que mais recebem tensão teriam maior quantidade de fibras, enquanto as partes que não necessitam de tanta resistência possuiriam uma concentração menor. A idéia partiu do estudo das propriedades físicas de uma planta, o bambu. "Há uma diferença entre a parte interna e externa dele, com variação no teor de fibras. O bambu é um material que trabalha sob ação do vento e, para ter uma resistência alta, deve-se ter um material mais resistente nas regiões próximas da casca", afirma Cleber.

Este conceito de material com gradação funcional já existe há quase 30 anos, mas não era aplicado à engenharia civil. Nas amostras, Cleber desenvolveu uma placa de fibrocimento que não tem fibras sintéticas no meio, enquanto as camadas superiores gradativamente adquirem fibras de PVA até chegar na superfície, que possui a mesma concentração de um material comum. Essa distribuição é realizada simetricamente a partir da camada do meio, com variações nas superiores e inferiores. Para telhas onduladas, o mecanismo é diferente, mas com poucas alterações em relação ao processo já utilizado.

"Com a tecnologia convencional, seria homogêneo, com o teor de fibras o mais alto possível, da camada superficial. Só que a fibra sintética é cara, representa aproximadamente 40% do custo das matérias-primas", explica. Na pesquisa, a telha inicialmente é produzida de forma homogênea, mas com um teor de fibra baixo. No entanto, à medida em que as camadas são formadas, há injeção da quantidade de fibras necessária, "Pode-se colocar em cada ponto a quantidade de fibras desejada", diz Cleber.

Mercado As estimativas iniciais apontam que a redução do teor de fibras de PVA pode ser de 50%, sem alterar o desempenho das telhas. Com menor quantidade de fibras utilizadas, haveria, conseqüentemente, um menor preço de produção. "Dá uma redução do custo de produção de 10% na fase inicial", acredita o pesquisador. "Depois, a gente vai aprimorando mais", espera. O conceito começou a ser aplicado também no estudo do concreto. Em uma estrada, por exemplo, as camadas superficiais poderiam ter, segundo estudo apoiado por Cleber, uma quantidade maior de cimento, enquanto as demais gradativamente possuiriam menos. Além do menor valor de produção, esse método traz um impacto ambiental menor. "Para produzir uma tonelada de concreto, é produzido, por volta de, 600 quilos de CO2", afirma. No modelo das telhas, o resultado também pode ser positivo para o ambiente, já que as fibras utilizadas são derivadas do petróleo e também poluem para serem produzidas. Uma idéia simples mas que pode ter efeitos benéficos tanto para o bolso dos consumidores, principalmente os de baixa renda, quanto para o meio ambiente. "Essa é a sacada", conclui Cleber.

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