ISSN 2359-5191

27/11/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 133 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Estudos sobre origem e evolução da vida ganham espaço no Brasil

São Paulo (AUN - USP) -Que a origem da vida sempre foi tema assíduo da curiosidade humana e dos estudos científicos, isso não é novidade. Mas que existe uma ciência totalmente dedicada ao estudo da vida no cosmos, poucos sabem. Trata-se da Astrobiologia, cujo objetivo é unir diversas ciências, como Biologia, Física, Química, Astronomia e Geologia, para desenvolver pesquisas práticas e teóricas. Agora, a Astrobiologia tem chamado a atenção dos cientistas brasileiros. Em parceria com uma lista crescente de instituições, como o Instituto de Biologia da USP, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, o IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP vem desenvolvendo estudos pioneiros na área, em nível nacional.

Há menos de uma década, a Nasa fundou seu Instituto de Astrobiologia, consolidando e expandindo os estudos desenvolvidos desde os anos 50 no segmento. No Brasil, estão prestes a se formarem os primeiros dois doutores na área: Douglas Galante, do IAG, e Ivan Lima, da UFRJ. Ambos fazem parte do grupo Astrobio Brazil, responsável pelo desenvolvimento das primeiras pesquisas brasileiras em Astrobiologia, com financiamento do CNPq e da Fapesp. O grupo participou do Congresso de Astrobiologia da Nasa e do I Workshop de Astrobiologia no Rio de Janeiro, que reuniu 50 cientistas da área, em 2006 e 2008.

Os estudos do Astrobio Brazil
Orientado pelo professor Jorge Horvath, o doutorando do IAG, Douglas Galante, estuda o impacto da radiação sobre a vida. Para isso, ele analisa a hipótese de uma grande explosão no universo, com altas emissões de radiação. Caso ela ocorresse na Via Láctea, Douglas afirma que a vida na Terra – em suas mais variadas formas – sofreria um grande baque. A radiação poderia alterar a atmosfera, destruindo o ozônio. Segundo o doutorando, um processo semelhante pode ter ocorrido anteriormente, liquidando espécies de vida que já habitaram não somente a Terra, mas também outros corpos cósmicos.

Os cálculos realizados por Douglas são repassados a Ivan Lima, doutorando na UFRJ, que fica responsável pela parte prática dos estudos. Para tanto, ele simula ambientes extraterrestres e expõe bactérias a feixes de radiação. Um dos resultados até agora obtidos vem reforçar a teoria da panspermia, que colocam meteoros e cometas como sendo o "meio de transporte" através dos quais formas de vida bastante simples chegaram à Terra, há bilhões de anos. Expondo a resistente bactéria Deinococcus radiodurans a altas radiações, descobriu-se que ela pode sobreviver escondida em fendas no substrato - ou seja, poderiam ter resistido ao ambiente agressivo do espaço e chegado à Terra em cometas ou meteoros.

Próximos passos
Agora, o grupo Astrobio Brazil pretende levar os estudos para a Open University, na Inglaterra, em outubro do próximo ano. Lá, utilizando o acelerador síncrotron Diamond, as emissões de energia poderão ser maiores, de forma a simular impactos sob uma radiação mais intensa.

Os planos ainda incluem o estudo de moléculas biológicas essenciais ao desenvolvimento da vida. Para isso, o grupo utilizará, a partir do meio do ano que vem, o observatório chileno VLT, da Agência Nacional Européia. Lá, observarão a presença e o comportamento dessas moléculas em áreas de formação de planetas, através da espectroscopia. A radiação de uma estrela interage com as moléculas do seu entorno, fazendo com que essas emitam energia na região infra-vermelha do espectro. Cada molécula interage de diferente maneira e, observando-se a alteração da radiação da estrela, pode-se inferir a presença de diferentes compostos ao seu redor. O estudo da interação das moléculas no espaço é também conhecido como astroquímica.

O grupo também está desenvolvendo um projeto para enviar experimentos com bactérias ao espaço, em um foguete a ser lançado da base de Alcântara, no Maranhão. Essa possibilidade surgiu devido ao convênio Brasil-Ucrânia, que prevê o lançamento dos foguetes ucranianos a partir da base brasileira. O acordo conta com a colaboração da pesquisadora Lynn Rothschild, da Nasa.

O foguete levará uma plataforma de experimentos, a ser exposta ao ambiente espacial em órbita baixa. O objetivo é testar as reais condições de sobrevivência que até hoje vêm sendo simuladas em Terra. "Além de permitir esse teste diretamente, o projeto permitirá ao Brasil o desenvolvimento de tecnologia para testes biológicos em ambiente espacial e de microgravidade", explica o doutorando Douglas. "Até o momento, esse é um privilégio das grandes potências espaciais".

Os próximos projetos do Astrobio Brazil também incluem a criação do Inespaço (Instituto Nacional do Espaço), cujo principal objetivo será impulsionar as ciências espaciais, entre elas a astrobiologia, no Brasil. Se aprovado, o Inespaço poderia fornecer recursos para novas pesquisas e projetos na área. Um deles, em andamento, prevê a construção de uma câmara de simulação planetária, capaz de recriar as condições de temperatura, pressão, composição atmosférica e radiação de vários planetas. Existem poucas câmaras como essa no mundo e, se aprovada pelo CNPq, a primeira da América Latina deverá ficar pronta nos próximos anos

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br