São Paulo (AUN - USP) - Foco da chamada economia ecológica, a construção de uma relação inédita entre sociedade e natureza e, ao mesmo tempo, entre economia e ética é o caminho para que o homem possa produzir e viver num mundo regido pelo desenvolvimento sustentável. Essa é a opinião de Ricardo Abramovay, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, apresentada em palestra realizada recentemente na unidade.
Durante sua apresentação, Abramovay – coordenador do Núcleo de Economia Sócio-Ambiental (NESA) – destacou as principais características da maneira como a economia do meio ambiente costuma tratar o tema do desenvolvimento sustentável e as contrapôs ao pensamento da chamada economia ecológica.
“O assunto pode ser encarado de quatro formas: (1) o sistema de preços tem dificuldade em garantir a alocação eficiente dos recursos naturais e, portanto, esses recursos entram tanto na reflexão quanto nas propostas de política como externalidades; (2) os recursos naturais se caracterizam por sua sustentabilidade e isso se traduz na posição de inúmeros economistas que dizem que o mundo continuará crescendo independentemente do esgotamento da natureza; (3) o crescimento econômico pode ser sustentável tanto pela capacidade de incorporar as externalidades, quanto pela capacidade de substituir recursos em esgotamento por meio do progresso técnico, posição presente em vários documentos do Banco Mundial e (4) não há limites naturais ao processo de crescimento econômico”, explicou Abramovay.
Ele vê como alternativa a tais visões o pensamento da economia ecológica. Esta economia afirma que os serviços prestados pelos ecossistemas à espécie humana não podem ser encarados como externalidades e que não são substituíveis por aquilo que o homem sabe fazer. “A noção de desenvolvimento sustentável exige, sob a ótica da economia ecológica, a inserção do sistema econômico, num sistema maior, que é o sistema ecológico. Uma vez que ele não é infinito, não tem como encararmos o próprio crescimento econômico da mesma forma. A menos que se suponha substitutibilidade perfeita e capacidade total de incorporar como externalidades os impactos provocados pelo homem no meio ambiente”, disse o professor da FEA.
Para Abramovay, é preciso que seja estabelecida uma distinção entre desenvolvimento e crescimento, isto é, há uma forte corrente no pensamento contemporâneo que preconiza o fato de que é possível que a sociedade se desenvolva ou crescendo menos ou até sem crescimento. A conseqüência disso é que o sistema econômico não pode ser mais visto apenas a partir da ação das preferências dos indivíduos, o que toca num problema crucial que é o da democracia e da escolha descentralizada numa sociedade regida pelo mecanismo de preços.
“O que está em jogo aí é a própria finalidade do sistema econômico e, portanto, são os temas éticos que acompanham essa questão de sua finalidade que passam a ser centrais na reflexão contemporânea. Para se ter uma idéia, desde 1800, a população mundial cresceu seis vezes. O Produto Mundial Bruto cresceu 58 vezes. O que a economia ecológica está nos dizendo é o seguinte: Dá para continuar assim? Claro que não”, destacou o uspiano.
Graduado em Filosofia, Abramovay chamou a atenção para o fato de que, ao longo da história, o conjunto das Ciências Sociais do Ocidente se constituiu dando as costas para a natureza e que chegou o momento da situação mudar.
O professor da FEA concluiu sua apresentação dizendo que “parece cada vez mais óbvia a urgência de se fortalecer abordagens interdisciplinares” que valorizem uma ciência sócio-ambiental. “Precisamos estabelecer um contrato com a natureza, refletindo sobre os direitos das outras espécies como parte da criação. A pressão social sobre a maneira como se organizam os mercados e como eles tratam os temas ambientais é algo extremamente positivo. Mercados são estruturas sociais e, por isso, passíveis da influência não só do sistema de preços, mas de várias organizações sociais”, salientou.