São Paulo (AUN - USP) -O poder público é o principal responsável pela morte de 84 pessoas e pelo desalojamento de outras 54 mil em Santa Catarina (levantamento até 11 de novembro), em decorrência das fortes chuvas que vêm atingindo o estado. Essa é a opinião do professor de Arquitetura Oreste Bortolli, do Departamento de Projetos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. Bortolli, que é professor de Projetos de Edificação, crê que a falta de orientação e de atenção por parte das Secretarias de Planejamento e das prefeituras catarinenses para com a habitação contribuíram para os desabamentos e deslizamentos de terra que flagelaram diversas cidades do estado sulista.
A situação começou a ficar calamitosa no último final de semana, quando a força das chuvas causou alagamentos gigantes e tragédias por todo o estado. Várias cidades ficaram completamente isoladas, sem água potável, luz elétrica e comunicação. Os danos nas estradas fizeram com que os preços subissem de maneira vertiginosa: o litro de gasolina chegou a R$ 4 e um simples pão francês a R$ 3, o que levou também ao saqueamento de supermercados e farmácias. Um efetivo militar de mais de 500 soldados foi enviado para tentar ajudar, mas a situação continua ruim, com seis municípios em estado de calamidade pública (quando há um desastre impedindo que os órgãos públicos funcionem como deveriam e ameaçando a saúde das pessoas que vivem no local) e outros sofrendo evacuações.
Grande parte dos óbitos ocorreu devido a soterramentos e desabamentos de casas localizadas em áreas de encosta. O professor Oreste Bortolli aponta os órgãos públicos como responsáveis pelas tragédias, já que permitem construções inadequadas nessas áreas de risco. Para ele, as Secretarias de Planejamento não devem permitir que isso aconteça, prevenindo novos acidentes por essa mesma causa. “As pessoas se assentam onde lhes parece melhor, mas deve ser feito um controle pelo poder público”, completa Bertolli. Ele também afirma ser contra a construção em área de risco, por melhor que seja seu planejamento.
O professor também comentou a declaração do prefeito de Blumenau, João Paulo Kleinübing (DEM), de que a cidade vai precisar de dois anos para reconstruir toda sua infra-estrutura urbana. Ele discorda: “Não sei se é possível resolver tudo isso em dois anos”. Para Bortolli, Kleinübing terá que analisar obras de gestões passadas e moldar uma equipe apta a resolver todos esses problemas com urgência. Blumenau, localizada a 130 km da capital de Santa Catarina, Florianópolis, é uma das maiores cidades do estado, com aproximadamente 300 mil habitantes (de acordo com o IBGE). Mesmo com boa estrutura, a cidade também sofreu com as tempestades, entrando em estado de calamidade pública.