São Paulo (AUN - USP) -
“Não chega o teu estudo
Ao centro disso tudo,
Que escapa aos olhos teus!
O centro disso tudo,
Homem vaidoso, é Deus!”
O Universo (Paráfrase) – Olavo Bilac
Pisamos na Lua, vimos as cores dos anéis de Saturno e fizemos Marte ouvir Coisinha do pai, mas mesmo possessores de tamanho saber na área astronômica, o universo que nos rodeia ainda parece ser tão obscuro quanto os mistérios da fé.
Sabemos que dois terços dele é composto pelo desconhecido, chamado pelos físicos de matéria e energia escura. As poucas informações que os cientistas têm sobre o assunto dão conta de algumas características que as diferenciam. Sabe-se que a primeira é inerte, não interage com outras (a não ser gravitacionalmente) e que aglomera, devido ao fato de ser atrativa; já a segunda não aglomera, porque tem pressão negativa. A pressão negativa da energia escura seria uma das explicações para a expansão do universo, pois ela seria capaz de acelerá-lo.
Pesquisadores do mundo todo tentam desvendar a composição dessas partículas desconhecidas que preenchem a maior parte do universo, entretanto nada pôde ser comprovado empiricamente até agora.
Segundo o professor Elcio Abdalla, do Departamento de Física Matemática do Instituto de Física da USP (IF/USP), a esperança de comprovar as teorias sobre matéria e energia escuras ou vê-las irem todas por água abaixo está no LHC (Large Hadron Collider), o maior acelerador de partículas já construído no mundo, situado na fronteira entre a França e Suíça. “Um dos candidatos mais fortes a ser matéria escura são os neutralinos”, afirma Abdalla. O neutralino é a mais leve e estável das partículas supersimétricas (s-partículas). As s-partículas são partículas elementares hipotéticas que não são descritas pelo modelo padrão da física de partículas, teoria que descreve as forças fundamentais fortes, fracas, e eletromagnéticas, bem como as partículas fundamentais, que constituem toda a matéria existente no universo. Por serem muito pesadas, ainda não puderam ser percebidas por nenhum colisor, porém acredita-se que um gigante de 27 quilômetros de diâmetro como o LHC tenha potência suficiente para detectá-las.
Enquanto o super acelerador de partículas não conseguir sanar as expectativas científicas, os mistérios continuam a atordoar a mente dos físicos. A dificuldade de encontrar explicações que desvendem os segredos do universo é tão grande, que há estudiosos adeptos à teoria da gravitação modificada, a qual nega algumas leis da física já consolidadas, alegando que a matéria escura se comporta de maneira diferente porque ela, de fato, não é igual a nada que conhecemos.
Físicos, assim como São Tomé, têm dificuldade de acreditar no que não pode ser comprovado frente aos seus olhos. A espera por uma colisão perfeita, capaz de comprovar teorias elaboradas durante anos, foi ainda mais tempo adiada devido a um problema que interrompeu o funcionamento do LHC temporariamente. Por enquanto, o que temos são pequenos humanos depositando todas suas expectativas sobre uma máquina maior do que eles, todos mergulhados em uma imensa escuridão de partículas desconhecidas.