ISSN 2359-5191

02/12/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 136 - Economia e Política - Instituto de Relações Internacionais
Professora da USP vê abandono uruguaio do Mercosul como real, mas pouco provável

São Paulo (AUN - USP) -A professora do Instituto de Relações Internacionais da USP Janina Onuki não acredita que o Uruguai rompa com o tratado do Mercosul no atual momento, uma vez que isso agregaria em um grande custo político ao país. Entretanto, ela identifica no posicionamento de Tabaré Vázquez uma intenção real de mudança nas relações do país com os outros Estados. “Não é simplesmente uma estratégia de barganha. O Uruguai quer de verdade uma reestruturação do sistema, na qual haja medidas eficazes para todos os participantes. A ruptura com o Mercosul é possível e está sendo cogitada, mas só ocorreria em última instância”, afirmou.

O atual presidente do Uruguai Tabaré Vázquez nunca escondeu suas pretensões de abandonar o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e estabelecer novos acordos bilaterais com outros países. Desde o início de sua gestão em 2005, Vázquez vem dialogando com Estados Unidos e Chile sobre novas formas de cooperação comercial. Segundo o presidente, o regime sul-americano apresenta tarifas e acordos desiguais que limitam o potencial uruguaio para o desenvolvimento, sendo assim, ele é obrigado a buscar novas maneiras para consolidar os interesses de seu país. O discurso de Tabaré Vázquez e suas ações políticas são fontes de preocupação e irritação de governantes da América do Sul, visto que, em tempos de crise mundial, as medidas uruguaias desestabilizam ainda mais o já debilitado bloco regional.

A insatisfação do Uruguai e os discursos de Vázquez indicam uma crise considerável entre os países da América do Sul. Brasil e Argentina, por exemplo, que se beneficiam muito dos acordos originados no Mercosul sentem-se prejudicados pela postura uruguaia. Já aos olhos do mundo, a questão desgasta a integridade do bloco e o deixa vulnerável a ataques estrangeiros. De acordo com Janina, a atual situação é conciliável. O problema de verdade reside na eventual saída uruguaia do Mercosul. Os custos políticos seriam enormes. “Mesmo que o Uruguai já não contribua muito hoje, o abandono de um membro instaura instabilidade e falta de legitimidade do bloco, o que não é fácil de ser reparado”.

Por fim, Janina Onuki firmou sua crença na manutenção do Mercosul. Segundo ela, apesar das crises e por mais que o Uruguai abandone de fato o bloco, é muito difícil que os governantes dos Estados membros assumam a responsabilidade de finalizar o projeto. “O que pode acontecer é a mudança de postura dos países em relação ao Mercosul. Eles podem dar menos prioridade à organização ou mesmo deixá-la sem atuação real. Ou seja, o bloco regional pode perder força. Contudo, existem alguns acordos que já estão em vigor e outros que podem ser retomados. De qualquer maneira, há um legado e muitas iniciativas de integração. E isso não acaba”.

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