ISSN 2359-5191

09/12/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 141 - Saúde - Faculdade de Saúde Pública
Conversa ensina comunidades indígenas a lidar com saneamento básico

São Paulo (AUN - USP) -Um grupo de pesquisadores paulistanos encontrou um método simples e eficaz para ajudar os índios a cuidarem melhor da saúde e do saneamento: a conversa. O projeto faz parte da tese de Doutorado de Renata Ferraz de Toledo, aluna da Faculdade de Saúde Pública da USP, e foi apresentado recentemente em palestra aberta ao público, na faculdade.

O projeto teve início em 2005, quando aconteceu a primeira visita à comunidade de Yauaretê, no município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. O ponto é um dos mais procurados pelos índios da região, pelos seus serviços: ali, há escola, hospital, correio e até um pequeno comércio, que se estende pela rua principal (“coisa de homem branco”, explica um dos palestrantes, usando o termo dos índios).

O ponto de partida foi identificar os problemas da comunidade, no campo da saúde. Aproveitando a união já existente entre os moradores, o grupo decidiu organizar reuniões abertas, no próprio Centro Comunitário de Yauaretê. “Conversamos muito e fizemos atividades, como os Mapas Falantes (nos quais os participantes desenham os problemas e soluções para a comunidade), até descobrirmos quais eram as principais queixas: falta de tratamento de água, falta de coleta de lixo e de esgoto e o Caxiri, que é a bebida alcoólica mais comum entre eles.”

O problema da água acabou levantando questões culturais, como a relação da comunidade com o rio, que é usado diariamente para banho, pesca, transporte, lazer e, ao mesmo tempo, para deposição de lixo e fezes. “Os índios criticam a poluição do rio e têm consciência das suas causas, porém o problema está nos hábitos culturais e na infra-estrutura da região, que não tem encanamento, coleta de lixo nem sanitários adequados.” Outro problema está no próprio imaginário da população: muitos se recusam a tomar remédios ou ir ao hospital antes de consultarem o pajé, o que acaba atrasando os tratamentos e dificultando o controle de epidemias.

Após a fase de diagnóstico, o grupo passou a estudar soluções para melhorar a saúde dos índios na comunidade. “Se a falta de infra-estrutura é uma grande barreira para aquela população, podemos dizer que a falta de mobilização social se mostrou um problema ainda maior.”, analisou Leandro Giatti, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e participante do projeto. A comunidade, de acordo com o relatório, cultiva uma lógica assistencialista, associando as melhorias a órgãos externos e agentes do governo, e não se apropriando dos instrumentos públicos.

Como solução, os pesquisadores aliaram aulas teóricas sobre o tratamento de água e soluções caseiras a aulas de mobilização social. Em 2007, como resultado desse trabalho, foi produzido um jornal comunitário, que discutiu os problemas de saneamento e divulgou formas de combater a poluição. Além disso, para dar continuidade ao projeto, os próprios moradores foram sendo incorporados como “agentes”, para, aos poucos, realizarem sozinhos as pesquisas e os debates sobre saúde pública. Este ano, a grande expectativa do grupo é em relação à FUNASA, que, após reivindicações da comunidade, aceitou licitar a rede de tratamento e distribuição de água e organizar oficinas de saneamento num futuro próximo.

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