São Paulo (AUN - USP) - Terremotos são vibrações da crosta terrestre que são sentidas, dependendo da intensidade que atingem. As ondas sísmicas se propagam por toda a Terra e, quando ocorre um grande terremoto, seus espectros são medidos pela estação sismológica da Suécia. A partir desses dados é possível estudar a física da profundidade da Terra, por onde as ondas se propagaram.
Se na Terra ocorrem terremotos, nas estrelas as oscilações sísmicas são chamadas de “estelemotos”, é o que afirma o professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP) e coordenador da participação brasileira no satélite Corot, Eduardo Janot Pacheco. Uma das finalidades principais do satélite é estudar as pulsações das estrelas a fim de obter informações sobre a cavidade estrelar.
Recentemente, o Corot detectou essas vibrações, antes medidas apenas no Sol, em três estrelas mais distantes. A importância da descoberta vai além da vontade de saciar a curiosidade humana em relação ao universo além-Terra. Estudar estrelas mais jovens e mais velhas semelhantes ao Sol é como estudar seu futuro e passado. “Assim você está vendo o Sol na infância, o Sol na juventude, o Sol hoje e o Sol no futuro”, diz o professor.
A vida terrestre depende integralmente dessa estrela, por isso é tão importante entender muito bem como ela se comporta. Janot cita a catástrofe ocorrida no final do século XVII, quando o Sol diminui de intensidade. A variação foi muito pequena, mas suficiente para matar muita gente de fome, devido à queda na produção agrícola. Segundo o professor, não se sabe por que isso ocorreu ou se poderia acontecer de novo. Por isso, a compreensão das estrelas é vital para nós. “A gente usa as oscilações como ferramenta para entender a física do interior das estrelas e, portanto, para entender como é que as estrelas se comportam e o Sol”, explica.
As três estrelas analisadas pelo satélite são mais jovens do que o Sol, porém foram apenas as primeiras. O professor garante que vários casos como esses ainda serão descobertos pelo Corot e que estrelas mais velhas e da mesma idade que o Sol também estão sendo estudadas.
O Satélite Corot, cuja pronúncia aproximada é “Corrô”, foi lançado em dezembro de 2006, com duas finalidades principais: estudar as pulsações das estrelas e descobrir planetas parecidos com a Terra fora do Sistema Solar. Leia a matéria desta mesma edição intitulada Satélite busca planeta semelhante à Terra através do endereço:
www.usp.br/aun/_reeng/materia.php?cod_materia=0812035
A participação do Brasil é pioneira em um projeto como esse e ocorre com a parceria da França, Áustria, Alemanha, Bélgica, Espanha e Itália. A equipe brasileira foi convidada a fazer parte do projeto em uma relação que atende aos interesses de todos os envolvidos. O Brasil gastou cerca de apenas US$ 2 milhões do custo total, de aproximadamente US$ 300 milhões. Só a França arcou com mais de U$ 100 milhões.
Saiu barato para o Brasil porque, além oferecer trabalho de pesquisa científica e cinco engenheiros para trabalhar no desenvolvimento do software do satélite, a estação espacial de Alcântara, no Maranhão é de importância estratégica devido à sua localização, no hemisfério sul da Terra. “Cada vez que ele [o Corot] passa aqui em cima do Brasil, ele solta dados e você pode observar muito mais por causa disso. Tem uma estação lá na Europa [hemisfério norte terrestre] e uma estação aqui. Isso vale muito dinheiro e foi essencial para que nós tivéssemos os mesmos direitos que os outros países”, justifica o coordenador da participação brasileira do projeto Corot, professor Eduardo Janot Pacheco, com doutorado no Observatório de Paris, em Meudon, sede principal do satélite. Este é um projeto muito lucrativo para a comunidade científica do país, pois, com um gasto relativamente baixo, garantimos o acesso aos dados, exatamente como têm os europeus.
Mais de 50 pessoas trabalham diretamente com o satélite no Brasil. Além do Maranhão, temos pesquisadores em Porto Alegre, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e São Paulo (IAG/USP, na capital, e Inpe, em São José dos Campos).