São Paulo (AUN - USP) -Quatro países americanos foram escolhidos para participar de um novo plano de enfrentamento à violência contra a mulher. A proposta é combater os valores culturais que, hoje, sustentam a maior parte das agressões. O projeto é iniciativa da RSMLAC (Rede de Saúde das Mulheres Latino-Americanas e do Caribe), em parceria com a Rede Feminista de Saúde do Brasil.
“Não adianta botar todos os homens na cadeia, temos que desconstruir a máquina que mata mulher.” – declarou a jornalista Telia Negrao, durante o III Seminário Temático sobre a Saúde da Mulher, na Faculdade de Saúde Pública da USP. Télia é secretária executiva da Rede Feminista de Saúde, e membro da RSMLAC. As duas entidades acabam de firmar parceria num ambicioso projeto multi-países, que será iniciado em breve.
A experiência deverá funcionar da seguinte maneira: após um período de pesquisa, a ser realizado em vários países, apenas quatro desenvolverão experiências-piloto (Brasil, Bolívia, Haiti e Guatemala). A idéia é concentrar as ações na desconstrução dos padrões culturais que levam, hoje, à aceitação da violência contra a mulher, e que tornam o combate muito mais difícil. É um projeto de prevenção, que dará base para a aplicação das leis punitivas.
Durante o Seminário, as diversas mulheres que se apresentaram foram unânimes num ponto: entender a violência de gênero como um fenômeno cultural e histórico pode ser a chave para um combate mais eficiente. De acordo com Olívia Rangel, membro da Rede Feminista de Saúde, a violência doméstica atinge todos os grupos sociais, indiferente de cor ou poder aquisitivo. Isso mostra que não se trata de um problema pontual, com origem na desinformação, mas de um pensamento coletivo que envolve valores masculinos de dominação e autoridade.
Dados da Fundação Perseu Abramo revelam como a violência contra a mulher está presente no dia-a-dia dos brasileiros: uma mulher é espancada a cada 15 segundos no país, e pelo menos um terço das mulheres de todas as classes já sofreram algum tipo de violência. Para completar, a maioria esmagadora das agressões não são provocadas por estranhos, mas sim por familiares e parceiros. Enquanto as soluções não chegam, a mulher pode se proteger através do telefone 180 (Central de Atendimento à Mulher), que oferece orientação sobre os direitos da mulher e pode ser usado em caso de cárcere privado.