São Paulo (AUN - USP) - Se depender de José Serra, o Mercosul não será tratado com tanta indulgência quanto aconteceu no Governo Lula. Para a AUN, o professor do Instituto de Relações Internacionais da USP Roberto Teixeira da Costa comentou as declarações e posicionamentos do governador tucano, virtual candidato ao Planalto em 2010, sobre o bloco econômico que integra as economias do nosso continente.
Não é de hoje que Serra critica o Mercosul. Ele acredita que o bloco mais atrapalha que ajuda o país, já que ele precisa negociar acordos mais amplos que contemplem todos os membros do bloco. Na opinião do governador, o Brasil tem peso econômico suficiente para buscar acordos bilaterais mais vantajosos para si em vez de "carregar" seus vizinhos sempre que inicia uma negociação. Serra defende que o Mercosul deixe de ser uma União Aduaneira e se transforme num Acordo de Livre Comércio, o que daria mais flexibilidade ao país para buscar suas próprias demandas.
Segundo Teixeira, o cenário atual dá mais razão ao governador que no passado, pois tem ocorrido uma deterioração nos ânimos entre os países membros nos últimos tempos, ainda embora o comércio entre eles tenha se elevado substancialmente. As divergências entre Brasil e Argentina na última rodada Doha são um exemplo de como o Mercosul não está conseguindo manter-se coeso nas negociações.
No entanto, o professor questiona se o rebaixamento do Mercosul para um Acordo de Livre Comércio seria tão mais vantajosos ao país. "Não vejo o Brasil ganhando muito mais em negociações bilaterais somente rebaixando o Mercosul (para um Acordo de Livre Comércio)".
Ele enumera ainda duas questões políticas. A primeira é o potencial desagregador dessa decisão, que poderia esfriar ainda mais as relações entre o Brasil e seus parceiros, já que sinalizaria uma menor disposição política para com os nossos vizinhos. A segunda é que, com um bloco mais fraco, a entrada de outros parceiros econômicos como os Estados Unidos dentro da América do Sul seria facilitada, o que não é de interesse do Brasil, pois ameaçaria sua influência no continente.
Por fim, perguntado sobre quais os cenários para o bloco econômico no caso de uma eleição de José Serra ou Dilma Roussef, provável candidata do governo, Teixeira diz que tudo dependerá dos rumos da atual crise financeira mundial. Apesar de não prever grandes diferenças na condução da política externa, ele ressalva: "Serra será bem menos generoso que Lula".