São Paulo (AUN - USP) -Surgidos no ano de 776 a. C., os Jogos Olímpicos foram proibidos mais de mil anos depois, em 393, pelo imperador romano Teodósio I (que os considerava uma manifestação pagã) e só voltaram a ocorrer em 1896, na cidade de Atenas. E esse retorno sofreu uma forte influência do ideais iluministas, surgidos na Europa no século XVII. É o que afirmou Paulo Nascimento - que estuda o movimento olímpico contemporâneo – em uma palestra ministrada recentemente na Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP).
A apresentação fez parte do Congresso de Iniciação Científica, que uniu a EEFE e a Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (FEF-UNICAMP). Nela, Paulo mostrou que o Iluminismo - com seu forte questionamento ao poder da Igreja Católica - permitiu a criação de um contexto crítico de reconfiguração do estado das coisas dentro da sociedade, o que possibilitou o ressurgimento do esporte no contexto social, se tornando a base para a modelagem do esporte moderno, pois as manifestações esportivas, mesmo com o argumento de serem pagãs, não poderiam ser proibidas.
Outros movimentos históricos relacionados ao surgimento do esporte foram as Revoluções Francesa e Americana, ambas do século XVIII. Segundo Paulo, a característica da primeira que influenciou no reaparecimento do esporte foi exatamente a separação entre Igreja e Estado. Na segunda, os valores meritocráticos - muito presentes no esporte moderno - foram a maior influência: “com a meritocracia, o cidadão precisava mostrar, publicamente, que merecia ocupar os altos cargos do poder”, afirma.
Todas essas idéias estavam presentes no campo de pensamento do barão Pierre de Coubertin, francês que foi um dos idealizadores da reorganização dos Jogos Olímpicos. Estes, por sua vez, sofreram várias alterações desde 1896. Para demonstrar isso, Paulo mostrou algumas idéias da professora Kátia Rubio (docente da EEFE), que periodizou os eventos para ilustrar essas mudanças. Ela divide as Olimpíadas da Era Moderna em quatro fases. A primeira, considerada como fase de estabelecimento, inicia-se em 1896 e tem seu fim nos Jogos de Estocolmo, em 1912 e seu fim está ligado à eclosão da I Guerra Mundial.
A segunda fase determinada pela professora é a de afirmação, que vai dos Jogos da Antuérpia (1920) até os de Berlim (1936), cuja principal característica é a de exaltação da prática amadora e do apartidarismo do esporte. Entretanto, esta última foi questionada exatamente em Berlim, quando o partido nazista dominava a Alemanha e teve uma forte influência política nas Olimpíadas através da idéia de superioridade do homem ariano ter de ser mostrada também no esporte. O terceiro momento dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, denominado como fase de conflito, aconteceu entre Londres (1948) e Los Angeles (1984). A nomenclatura se justifica pela constante tensão criada pela Guerra Fria. E a principal característica é a do questionamento da inviolabilidade dos Jogos, pois eles se configuraram como refletores de embates políticos. Exemplo clássico é o boicote americano às Olimpíadas de Moscou (1980) e o troco soviético em 1984 (Los Angeles).
Por fim, na definição de Katia, há a fase profissional, iniciada em 1988 (Seul) e que dura até hoje. Como o próprio nome diz, foi a partir dela que os Jogos tiveram uma maior abertura aos atletas profissionais, deixando-se de lado um dos princípios do Olimpismo proposto por Coubertin: o amadorismo.